"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Assunção corporal de Maria Santíssima – Morte e sepulcro em Jerusalém


Dando continuidade à pergunta: O que aconteceu com a Mãe de Jesus no fim de sua vida: ela teve uma morte corporal como a nossa? O que vem a ser a Assunção de Maria?


Dom Estêvão responde:

Verdade é que a tradição mais antiga afirma que Maria morreu e aponta o seu sepulcro em Jerusalém, assim como o lugar em que terá morrido. Todavia autores recentes julgam que a Virgem Santíssima foi isenta da morte, de modo que teria passado diretamente da vida terrestre para a glória. Esta sentença é aceitável, mas não é a mais provável; é de crer que Maria tenha imitado seu Divino Filho também ao experimentar a morte.
Há quem pergunte: onde estão os corpos gloriosos de Jesus e Maria, se ambos já foram ressuscitados e glorificados? Em resposta, devemos dizer que não é necessário admitir um lugar ou um espaço na qual estejam contidos esses dois corpos; a Filosofia ensina que um corpo é verdadeiro corpo, com suas dimensões definidas, mesmo que não esteja compreendido entre paredes ou num lugar dimensional.

Maria é, de modo especial, o modelo da Igreja. O que esta só conseguirá plenamente após a segunda vinda de Cristo, Maria o obteve logo na primeira vinda do Senhor. Por isso, o Concílio Vaticano II quis assim pronunciar-se:

- “Para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores (cf Ap 19,16) e vencedor do pecado e da morte, Maria foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo” (nº 60);

- “A Mãe de Jesus, tal como está nos céus já glorificada em corpo e alma, é a imagem e o começo da consumação da Igreja, que só estará plena no futuro. Assim também brilha aqui na Terra como sinal de esperança segura e de conforto para o povo de Deus em peregrinação, até que chegue o dia do Senhor (cf 1Pd 3,10)” (nº68)

Em nossos dias, existe a tendência a empalidecer o significado da glorificação corporal de Maria, mediante a tese segundo a qual a ressurreição de todo e qualquer indivíduo se dá logo após a morte; o caso de Maria seria um entre outros pares, sem relevo especial pra a Virgem Maria.

Ora, essa nova concepção supõe uma antropologia errônea; supõe, sim, que não haja distinção entre corpo material e alma espiritual no homem, de modo que, quando este morre, morre por completo, não ficando a alma imortal a sobreviver sem o corpo. Por isso, tal premissa antropológica leva a concluir que a ressurreição deve ocorrer logo após a morte do indivíduo, para que não haja um hiato entre a respectiva morte e a ressurreição.

Na verdade, porém, corpo e alma se distinguem no homem, como se distinguem entre si matéria e espírito; o corpo está sujeito à dissolução no sepulcro, ao passo que a alma, sendo espiritual, é por si mesma dotada de imortalidade; ela subsiste sem corpo até o dia da segunda vinda de Cristo, quando se dará a ressurreição da carne e a recomposição do ser humano psicossomático.

A fim de evitar a propagação de falsas concepções, a Congregação para a Doutrina da Fé emitiu uma instrução em 17 de maio de 1979, em que declara: “A Igreja, em conformidade com a Sagrada Escritura, espera a gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo, que ela considera como distinta e diferida em relação àquela condição própria do homem imediatamente após a morte. A Igreja, ao expor a sua doutrina sobre a sorte do homem após a morte, exclui qualquer explicação que tire o sentido à Assunção de Nossa Senhora naquilo que ela tem de único, ou seja, o fato de ser a glorificação corporal da Virgem Santíssima uma antecipação da glorificação que está destinada a todos os outros eleitos” (nº 5 e 6).

Os fundamentos bíblicos para a ressurreição de todos os homens (excetuada a Virgem Santíssima) no fim dos tempos são os seguintes:

- Jo 6,44: “Eu o ressuscitarei no último dia”, diz o Senhor;

- 1Cor 15,22s: “Como todos morreram em Adão, em Cristo todos receberão a vida. Cada um, porém, em sua ordem: como primícias Cristo; depois aqueles que pertencem a Cristo, por ocasião de sua vinda (parusia)”;

- 1Ts 4,16: “Quando o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida, nós, os vivos que estivermos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o Senhor nos ares”.

Eis o que podemos dizer à guisa de aprofundamento da prerrogativa mariana da Assunção corporal. Em suma, ela decorre da Maternidade Divina, que é o privilégio básico de Maria Santíssima. Com efeito, porque devia ser Mãe de Deus feito homem, Maria foi preservada de todo pecado, até mesmo do pecado original (por aplicação antecipada dos méritos de Cristo). E, se foi isenta de todo pecado, Maria não podia ficar sob o império da morte no sepulcro, já que a morte foi introduzida no mundo pelo pecado (cf Rm 5,12).

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Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
Católicos perguntam

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