"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

domingo, 1 de novembro de 2009

"Quando sou fraco então é que sou forte" (1Cor 12,10)

Por Dom Estêvão Bettencourt

Esta paradoxal afirmação de São Paulo só se pode entender sob a luz de Deus. O Apóstolo tinha consciência de ser um homem fisicamente fraco, perseguido pelos judaizantes; nesse despojamento de qualquer título de auto-suficiência sabia ele que a graça de Deus poderia atuar mais livremente. Deus manifesta seu poder precisamente quando o homem reconhece sua incapacidade. Este procedimento divino perpassa toda a história da salvação: Deus quer servir-se do fraco e inepto para realizar sua obra. Foi o que se deu, por excelência, no caso de Gedeâo: chamado para combater os madianitas, Gedeão congrega trinta e dois mil homens; o Senhor lhe diz então: “O povo que está contido é numeroso demais...; Israel poderia gloriar-se”. Gedeão assim intimado reduziu seu exército ao montante de trezentos homens, com os quais venceu estupendamente as tropas madianitas (ver Jz 7,1-22). Outros casos semelhantes se poderiam apontar na Bíblia, significando todos eles que Deus quer fazer grandes coisas em favor do homem, servindo-se do homem, mas do homem esvaziado de qualquer presunção.
Até mesmo os Santos sentiram os achaques e misérias da natureza, de modo a atribuir a Deus tudo quanto de bom faziam. Um certo estudo da grafia de vários Santos, levado a termo com seriedade e honestidade, revelou que nos íntimo de cada Santo permaneciam tendências ambíguas, que a graça converteu em santo heroísmo; assim S. Inácio de Loyola tinha uma personalidade autoritária, que a graça converteu em chefia da Companhia (exército) de Jesus, mas que podia degenerar em crueldade; Santa Teresinha de Lisieux tendia a ser “bonequinha mimosa”, mas foi convertida pela graça em “simpática” monja carmelita. S. Luís Maria Grignion de Monfort, alegre e brincalhão, tanto podia ser palhaço de circo como missionário santamente brincalhão.
A referência a estes dados históricos ajuda o cristão contemporâneo a compreender melhor sua vida. Se falhas existem, hão de ser confessadas e pranteadas, mas tire delas proveito, pois dão ocasião de reconhecermos que nada de bom temos por nós mesmos; não há, pois, motivo de vã glória. É em tais corações que Deus quer operar maravilhas, pois “quando sou fraco, então é que sou forte”, “é na fraqueza do homem que se manifesta a força de Deus"(v.9).
Que a Virgem Santíssima, obtenha para quantos procuram a santidade, a compreensão sempre mais profunda do paradoxo vivido por São Paulo e tantos heróis, fracos por si mesmos, mas fortes por Deus!

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