"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

A devoção aos Santos e a Maria Santíssima - Continuação...

A devoção a Maria Santíssima
Do livro: Católicos Perguntam – Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
É neste contexto que se coloca a devoção a Maria Santíssima. No conjunto dos Santos, Maria ocupa um lugar único, pois foi chamada a ser a Mãe do Redentor e Mãe dos homens (cf Jo 19,25-27).
Disto se segue que a veneração dedicada pelos cristãos a Maria difere da devoção aos demais Santos. Prova disso é que existem verdades de fé (dogmas) concernentes a Maria, mas não os há em relação aos outros Santos.
Verdade é que os três dogmas marianos não são mais do que o eco de dogmas cristológicos. Com efeito, o Filho de Deus quis fazer-se homem (donde a Maternidade Divina); para ser digno habitáculo da Divindade, Maria nunca esteve sujeita ao pecado (donde a Imaculada Conceição) nem à consequência do pecado, que é o domínio da morte sobre o ser humano (daí a Assunção gloriosa aos céus).
A eminência do culto a Maria foi expressa pelo Concílio de Nicéia II, em 787, mediante o termo “hyperdulia” (superveneração), ao passo que os demais Santos são cultuados em “dulia” (veneração). Consequentemente, devemos dizer que a devoção a Maria não é facultativa, ao passo que a devoção a São Francisco ou São Bento o é.
A necessidade do culto de veneração a Maria se deduz do próprio Cristocentrismo da piedade cristã. Sim, São Paulo afirma que “fomos predestinados a ser conformes à imagem do Filho, a fim de ser ele o Primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,20). Assim, quanto mais o cristão se configura à imagem de Cristo, ou quanto mais se identifica com ele, tanto mais terá em seu íntimo os sentimentos de Cristo. Ora, Jesus era todo Filho do Pai (como Deus) e todo Filho de Maria (como homem). Donde se segue que quanto mais centrado em Cristo for o cristão, tanto mais deverá sentir-se filho de Maria. A devoção mariana, portanto, está na lógica mesma do “ser um outro Cristo”, programa de todo cristão. O cristão deve procurar tornar-se, para Maria, um outro Jesus.
Diz, muito a propósito, o padre E. Schillebeechx: "Para quem está verdadeiramente consciente do papel de Maria, é impossível passar, sem Maria, uma vida que queira ser cristã, uma vida que não contrarie o apelo de Deus, não derrogue a ordem cristã, não negligencie as delicadas atenções de Deus. Os pregadores e as testemunhas da fé devem, por isso, levar a peito a pregação do mistério mariano e valorizá-lo, porque esse mistério (...) está na medula da religião cristã” (Maria, Mãe da Redenção, pág. 97). O mesmo autor desenvolve o papel de Maria na atual história da Igreja e de cada um de nós: “Em nossa vida, Maria é o coração que dá. O coração que compreende as nossas necessidades e que, maternalmente, as expõe ao Filho, o Deus que continua sendo seu Filho. Ela pode lhe dizer, como em Caná: ‘Eles não têm mais vinho’. Ah, se pudéssemos ouvir o colóquio de Jesus e Maria a nosso respeito, veríamos como estão sempre a par das nossas necessidades. Tudo como em Caná. O ‘eles não têm mais vinho’ vem a ser ‘falta-lhes dinheiro’, ‘estão na pior das misérias’, ‘seu pai está doente e a mãe tem oito crianças para educar’, ‘eles desejam conformar-se com as leis do matrimônio, mas..., mamãe partiu para uma longa viagem, diz o papai aos filhinhos, e papai não sabe se ela voltará...’ Não esqueçamos que a vida terrestre atual, de que se ocupam a gloriosa Mãe e o Filho glorificado, só será realmente abençoada se a relacionarmos com as palavras de Maria aos servidores de Caná: ‘Fazei tudo o que meu Filho vos disser’. Degustareis, então, o que ela vos der em nome do Divino Filho, e direis, como os convidados de Caná: ‘Guardaram o melhor vinho para o fim!” (Op.cit., pág. 121).
Conclusão:
Como se compreende, pode haver expressões inadequadas da piedade mariana, mais inspiradas pelo sentimentalismo do que pela reta fé. A esse propósito escreveu o Concílio do Vaticano II: “O Concílio exorta com todo o empenho os teólogos e os pregadores da Palavra Divina a que, na consideração da singular dignidade de Mãe de Deus, abstenham-se com diligência tanto de todo falso exagero quanto da demasiada estreiteza de espírito (...) Com diligência afastem tudo o que, por palavras ou fatos, possa induzir os irmãos separados, ou quaisquer outros, em erro acerca da verdadeira doutrina da Igreja. Ademais, saibam os fieis que a verdadeira devoção não consiste num estéril e transitório afeto, nem numa certa vã credulidade, mas procede da fé verdadeira, pela qual somos levados a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, excitados a um amor filial para com nossa Mãe e à imitação de suas virtudes” (Constituição Lumen Gentium, nº 67).
Eis como se deve conceber a piedade para com Maria Santíssima e para com os demais Santos.
Imagem: saudedalma.blogspot.com/

Nenhum comentário: