"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

"Vossos Corpos... Hóstia Viva, Santa" (Rm 12,1)


“Mais do que nunca, os nossos dias levam a pensar no corpo humano e sua dignidade. A respeito encontram-se na história duas concepções antagônicas:

a) a concepção pessimista: no Oriente e na Grécia antiga certas escolas consideravam o corpo humano como sepulcro (soma = sema, em grego) ou cárcere, do qual o ser humano tende a se libertar. O vilipêndio do corpo até a época moderna é sustentado por correntes não cristãs: assim nos séculos XIX/XX a Maçonaria propugnava a cremação dos cadáveres para incutir a tese de que são lixo, totalmente imprestável após a morte do imprestável após a morte do indivíduo¹. No século XX duas guerras mundiais contribuíram para a devassidão e o aviltamento do corpo.
b) a concepção otimista valoriza até o excesso o corpo humano mediante ginástica, dieta alimentar, vestimentas... A pessoa vale então pelo traçado do seu corpo.
A estes dois enfoques não cristãos justapõe-se o modo de ver cristão, que se compendia nas palavras do Apóstolo: “Oferecerei vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus” (Rm 12,1). Na verdade, pelo Batismo o cristão é feito templo do Espírito Santo (1Cor 6,1). Diz ainda o Apóstolo: “O corpo é para o senhor e o Senhor é para o corpo” (1Cor 6,10). Isto significa que a vida do cristão vivida no corpo, com tudo o que ela tenha de corriqueiro e comezinho, é um culto prestado a Deus; não é existência profana mesmo quando trata de coisas profanas, mas é um permanente louvor a Deus.

Mais: o corpo humano é um microcosmos ou um compêndio de macrocosmos (existe como os minerais, vegeta como as plantas sente com os animais irracionais, possui intelecto como os anjos), de modo que através da mediação sacerdotal do homem o mundo inferior dá glória a Deus.

Eis o que ensina o Concílio do Vaticano II: “Corpo e alma, mas verdadeiramente uno, o homem, por sua constituição corpórea, sintetiza em si os elementos do mundo material, que nele atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma voz de louvor” (Gaudium et Spes nº 14).

Com outras palavras: o mundo inteiro, através do comportamento cotidiano do homem, dá glória a Deus. Tal é a grande dignidade das pequenas coisas de cada momento!

O corpo humano, santuário da Divindade ainda é mortal. Deve ser transfigurado como foi o de Maria SSma., à semelhança do corpo de Cristo (Fl 3,21). Esta esperança anima o cristão e o faz mais e mais ansiar pela plenitude da obra que o Espírito Santo nele realiza!
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¹ A partir de 1964 a Igreja aceita a cremação de cadáveres, pois pode ser indicada por razões de higiene, urbanismo, economia, sem intenções filosóficas anticristãs.
Revista Pergunte e Responderemos
Setembro 2003 – nº 495

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.

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