"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

segunda-feira, 5 de abril de 2010

“Reavivar o Dom...” (2Tm 1,6)


Em 2Tm São Paulo escreve ao jovem discípulo Timóteo, que talvez se sentisse acabrunhado pelas intempéries do pastoreio da comunidade de Éfeso. E exorta-o a anazoopyrein o dom de Deus (cf. 2Tm 1,6). – O verbo grego assim utilizado é muito expressivo: supõe um braseiro cujas brasas vão sendo, aos poucos, recobertas de cinzas de modo a já não emitir luz. Que faz então a pessoa interessada? – Sopra sobre as brasas de maneira que as cinzas se dissipam e surge para chama alta e bela a irradiar luz e calor; por assim dizer, as brasas voltam a viver, de amortecidas que estavam. É bem isto o que o verbo sugere: aná diz “para cima” e “de novo”; zoé designa a vida e pyr, o fogo¹.

Ora cada cristão (e não somente Timóteo) pode ser tido como um braseiro. Com o tempo, as brasas, a princípio lúcidas e irradiantes, vão-se cobrindo de cinzas ou vão esmorecendo e se cansando vistas as inclemências da vocação cristã de ser luz do mundo. (cf. Fl2,15; Mt 5,14). É necessário, pois, periodicamente soprar sobre as cinzas para que se dissipem e permitam o surto da bela chama latente no coração dos fieis. Faz-se mister sacudir a rotina e a acedia que tendem a apagar a brasa ou os dons do Espírito Santo presentes em cada coração reto (cf. Lc 12, 49; 1Ts 5,19). ¹

Com outras palavras: o Apóstolo incita o leitor a viver em profundidade, evitando a superficialidade. É oportuno voltar regularmente às perguntas: De onde venho? Para onde vou? Qual o sentido da vida? Mais ainda: é importante manter, por toda a vida, a têmpera forte e corajosa dos anos de juventude, por mais que a ingrata experiência do cotidiano tenda a sufocar tais disposições. Estas podem, sim, amadurecer, tornar-se mais adultas com o passar dos anos, mais jamais esmorecer.

Vêm muito a propósito as palavras do General Mac Arthur:

     “Jovem é aquele que se admira, que se maravilha e pergunta como criança insaciável: E depois?... Que desafia os acontecimentos e encontra alegria no jogo da vida.
      És tão jovem quanto a tua confiança em ti mesmo, tão velho quanto o teu desânimo. Serás jovem enquanto te conservares receptivo ao que é belo, bom e grande.
     Receptivo às mensagens da natureza, do homem e do infinito.
     E, se um dia teu coração for atacado pelo pessimismo e corroído pelo cinismo, que Deus então se compadeça de tua alma de velho!”.

Eis, em linguagem profana, o que São Paulo quer dizer com a imagem do braseiro a ser reavivado periodicamente.

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
__________________
¹ Semelhante imagem ocorre nos escritos de Sêneca, filósofo, contemporâneo de São Paulo: “Os nossos ânimos trazem as sementes de valores honrosos, sementes que são ativadas pela admoestação, à semelhança do que se dá quando um centelha, provocada por leve sopro, expande suas chamas” (Epístola XCIV).

Nenhum comentário: