Martin Heidegger (1889-1976) era um filósofo alemão, que passava por existencialista ateu. Teve vinculação com o nacional-socialismo de Adolf Hitler, que ele depois lamentou como sendo sua queda ou sua atitude de fraqueza. Antes de falecer, concedeu uma entrevista à revista alemã DER SPIEGEL, em que explicou o porquê de sua posição favorável a Hitler; suas declarações seriam “ein Beitrag zur Aufklärung meines Falles, uma contribuição para esclarecer minha queda”. Mas Heidegger quis que suas explanações só fossem publicadas após o seu falecimento. O periódico DER SPIEGEL, nº 23/1976, PP. 193-219, publica-se em edição póstuma, notando que estava respeitando a vontade do entrevistado. O que nos interessa nestes dizeres, é a declaração religiosa de Martin Heidegger, que durante a sua carreira filosófica passou por ateu.
Assim em determinado momento da conversa, declarou Heidegger:
“Em poucas palavras e talvez de modo maciço, mas após longa reflexão, seja-me lícito dizer: a Filosofia não será capaz de produzir, de imediato, alguma alteração da atual situação do mundo. Aliás, isto vale não apenas para a Filosofia, mas para toda e qualquer reflexão e aspiração de cunho meramente humano. SOMENTE UM DEUS PODE AINDA NOS SALVAR. A nós fica tão somente a possibilidade de preparar, mediante o nosso pensar e o nosso agir, poesias ou disposições para o aparecimento desse Deus ou para a ausência de Deus, caso tenhamos que perecer, perecer perante a face de Deus ausente”.
SPIEGEL: “Crê o Sr. que nos é possível ter um conceito de Deus?”
HEIDEGGER: “Não podemos ter noção de Deus. Na melhor das hipóteses, podemos excitar em nós a disposição que aguarda”.
Este depoimento é de grande relevo, pois procede dos lábios de quem se professou ateu e procurou n ateísmo (na Filosofia e nas ciências as meramente humanas) a resposta para os seus anseios mais profundos. O nacional-socialismo, com a sua “mística” fracassada, fez que Heidegger compreendesse que somente os valores transcendentais e, em última análise, Deus trazem a salvação ao homem.
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
Revista Pergunte e Responderemos – Novembro 1996
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