Tais palavras ressoam ainda hoje aos ouvidos do cristão tentando despertar seu interesse para uma realidade presente de modo velado, que poderia oferecer uma resposta mais plena para os seus anseios naturais.
Pois bem. No plano da fé ocorre fenômeno análogo. Todo cristão é um pouco como criança colada diante do mistério de Deus. E, por isto, tende a fazer de Deus um Papai Bonachão, ou um Banqueiro a quem é preciso agradar para receber benefícios... Em Jo,4,10 Jesus quer dizer ao discípulo que Ele não é um Papai Grande nem um Banqueiro Grande, mas é o Autor Grande que primeiro nos amou (cf. 1Jo 4,19) e nos criou para fazer-nos participar da sua bem-aventurança celeste. Uma oração do Missal Romano proclama:
“Deus onipotente e eterno, que, na grandeza do vosso amor, ultrapassais os méritos e os anseios dos que vos suplicam, conceda-nos o que a oração não ousa pedir” (Coleta do 27º domingo do tempo comum).
Compete, pois, ao cristão, enquanto ainda é tempo, dar atenção a essa advertência do Senhor Jesus e responder com mais amor ao Primeiro Amor... Primeiro Amor que os olhos do corpo não podem ver, mas que se faz perceptível aos olhos da mente, já que Deus está presente 1) a toda criatura conservando-a na existência, pois a existência de cada ser se deve a um permanente ato criador de Deus; 2) além do quê Deus se dá aos fieis comunicando-lhes a filiação divina, penhor da herança definitiva ou “daquilo que o olho não viu, o ouvido jamais escutou e o coração do homem jamais percebeu” (1Cor 2,9). O Deus presente na terra é o mesmo Deus presente no céu, que faz a felicidade dos justos na glória celeste. Verifica-se apenas que nesta vida Ele está encoberto pelos véus dos sacramentos, mas pode ser descoberto mediante a fidelidade generosa de cada um as aspirações da graça. Ele não força o convívio, mas atende prontamente a quem se lhe abre, como Ele mesmo afirma no Apocalipse: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém escuta meu chamado e abre a porta entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20).
O cristão, ciente dessa presença delicada e misteriosa, mas extremamente generosa não tardará a abrir-lhe a porta, enquanto lhe é dado usufruir o tempo oportuno ou o Kairós de Deus.
“Se conhecesses o dom de Deus..."
“A Virgem do Rosário ajude seus filhos nessa grande descoberta”
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
Revista Pergunte e Responderemos – outubro 2005
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