"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sexta-feira, 4 de junho de 2010

“Um passo, mais um passo!”

Antoine de Saint-Exupéry, no seu livro “Terre des hommes”, refere uma historieta altamente significativa:


O aviador Guillaumet caiu certa vez a 6.500 m de altitude na cordilheira dos Andes, em pleno inverno. Viu-se logo cercado pelo gelo e pela neve, gravemente ameaçado de perecer. Um tanto perplexo a princípio, esperou que se acalmasse a tempestade que o envolvia, e resolveu pôr-se em marcha pelas montanhas a ver se encontrava um ser humano que o socorresse.

No seu árduo percurso, Guillaumet, escorregava e caía, sucessivas vezes. Ia mesmo perdendo o instinto de conservação, sói acontecer em tais casos. Todavia resistia à tentação de se deixar morrer de frio e inércia, pois dizia consigo mesmo: “Minha mulher, se ela julga que estou em vida, julga que estou caminhando. Os companheiros julgam que estou caminhando. Todos têm confiança em mim. Eu seria um covarde se não caminhasse”.

Assim pensando, levantava-se, e prosseguia a dura caminhada; procurava não refletir para não ser acometido pelo desespero. Certa vez, porém, viu-se prostrado sobre a neve, já prestes a capitular; sem forças, antevia a morte com serenidade.

Contudo pôs-se a pensar na esposa: caso se deixasse morrer naquele local em rampa, os eu cadáver no próximo verão seria arrastado para um precipício, e ninguém mais o encontraria. Então a Companhia de Seguros nada pagaria, de imediato, à sua esposa, pois só após quatro anos de desaparecido é que seria legalmente tido como defunto! Via, porém, a cinquenta metros de distância, um penhasco que emergia. Se fosse morrer naquela altitude, o seu corpo seria mais fácil encontrado no próximo verão, e sua mulher sem demora receberia a conveniente paga financeira.

Mobilizando então suas últimas forças, pôs-se de novo em marcha. Enquanto caminhava dizia: “O que salva, é dar um passo. Mais um passo. É sempre o mesmo passo que temos de recomeçar”.

Finalmente, como fruto desse esforço titânico, Guillaumet conseguiu atingir uma estrada; e um caminhão que aí passava, o recolheu, ainda em tempo para lhe salvar a vida!

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
Revista Pergunte e Receberemos – dezembro 1970

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