É sempre possível que Cristo queira se comunicar conosco e que nós não lhe prestemos a mínima atenção. É sempre possível que ele queira interferir em nossas decisões, fortalecer-nos com seu amor, iluminar-nos com sua luz, orientar-nos com sua Palavra – enquanto nós continuamos mergulhados em nossos afazeres, orgulhosos de nossa sabedoria, de nossa experiência e de nossas forças.
Até parece que Cristo, depois de condenado a morrer numa cruz, agora esteja sofrendo uma segunda condenação: a de nunca ser escutado, ouvido, atendido. E esta segunda condenação pode ser até mais dolorosa do que a primeira, pois ela não vem de inimigos, mas daqueles que se proclamam amigos seus...
Hoje, nós corremos o risco de abraçar incondicionalmente o procedimento de Marta, entregando-nos a um ativismo frenético nada iluminado pela fé, e deixando às poucas e desacreditadas Marias o compromisso da contemplação e da escuta de Deus.
Não queremos acreditar que todos os cristãos precisam ser Marta e Maria ao mesmo tempo; isto é, contemplativos e ativos, ouvintes atentos da Palavra e executores destemidos daquilo que a Palavra nos propõe...
O problema, porém, é que um pouco de contemplação até nos assusta. Pensamos que ela vai nos arremessar para o alto, sem nunca mais deixar-nos aterrissar, alienando-nos da realidade da vida e afastando-nos dos irmãos.
Mas não é bem assim. Pois a contemplação não é só processo ascensional; é também processo descensional. É Deus que nos recebe e depois, fortalecidos, nos restitui aos irmãos.
Para nossa fé não se apagar para nosso amor não virar paternalismo e para nosso serviço não virar socialismo, deixemos de desatender o Cristo e prestemos ouvidos à sua Palavra.
Padre Virgílio
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