Depois de um mês de maceração e penitências, Francisco saiu da gruta, reentrando em Assis, resolvido a consumar a imolação completa de si mesmo, e se entregar ao arbítrio das perseguições e à raiva alheia, bem como fizera Jesus. Os vincos causados pelas vigílias, pelas lágrimas, pelos jejuns e pelas demais duras penitências viam-se escritos no seu rosto, pálido e emagrecido, mas fulgurando de uma luz mística.
Através dos miseráveis farrapos com que se encontra vestido, transpareciam as suas carnes virginais e minguadas pela penitência; e o conjunto daqueles molambos humilhantes e aquele olhar e serenamente luminoso, davam-lhe a aparência de um Anjo em forma de pobre mortal.
Grande alma! Não sabias, por acaso, que te aguardavam o escárneo e os chicotes, o desprezo e os maus-tratos do povo que um dia te havia aclamado o “Rei das Festas?” Não refletias tu que te esperavam a cega injustiça dos parentes, a ingratidão feroz dos amigos, o atroz desprezo dos conhecidos e os insultos pérfidos dos conterrâneos? Não temias que talvez o teu coração não conseguiria suportar aquela onda de amarguras? Não receavas tu que era capaz de se revoltar a frágil natureza humana, ou, quando menos, ceder, amesquinhada sob os golpes de tão grande desprezo e abandono?
Ó seráfico jovem – tu tinhas em mira o Céu e não a terra. A ira que se desencadeava contra ti aumentava a tua mansidão; o desprezo alheio tornava-se mais alegre; o ódio de todos acrescentava o teu amor por todos. A loucura da Cruz te havia tomado em todo o seu fascínio. Vencera-te, para te elevar. Aniquilara-te o corpo, para temperar tua alma. Arrancara-te dos braços do mundo, para te presentear novamente a ele feito apóstolo!... Ó força da Fé!
São Francisco de Assis por G. Russotti – (trecho do livro)
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