Eu te invoco, “meu Deus, misericórdia minha”,¹
que me criaste e não te esqueceste daquele que se esqueceu de ti.
Eu te chamo à minha alma, que preparas para te receber, inspirando-lhe este desejo.
Não desampares aquele que te invoca, tu que te antecipaste, antes que eu te invocasse.²
Cada vez mais insistentemente falaste comigo e de diversos modos,
para que eu de longe te escutasse, me convertesse e chamasse por ti, que me chamavas.
Senhor, apagaste todos os meus delitos, para não punir minhas mãos ³ com as quais pequei contra ti, e te antecipaste a meus méritos, para poder retribuí-los por tuas mãos, com as quais me criaste.
De fato, antes que eu existisse, já existias; e eu não existia,
para que pudesses oferecer-me o dom da existência.
Eis que agora existo, graças à tua bondade, que precedeu tudo aquilo que sou e de onde fui criado.
Não tinhas necessidade de mim, e eu não sou um bem de quem possas receber auxílio, “meu Senhor e meu Deus”.4 Se me coloco ao teu serviço, não é para te aliviar, nem teu poder diminui se faltarem minhas homenagens; e o meu culto por ti não é a mesma coisa que a cultura é para a terra;
sem a cultura, a terra ficaria estéril. Eu é que devo servir-te e honrar-te, a fim de ser feliz em ti,
de quem depende a minha felicidade.
Santo Agostinho
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¹ Sl 58,18.
² Cf. Sl 58,11.
³ Cf. Sl 17,21.
4 Jo 20,28.
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