Onde habitas, Senhor, na minha memória? Em que recanto dela habitas? Que esconderijo aí construíste, que santuário edificaste?
Deste-me a honra de habitar em minha memória, mas em que parte? É o que estou procurando. Ao recordar-me de ti, ultrapassei as regiões da memória que também os animais possuem, porque aí, entre as imagens dos seres corpóreos, eu não te encontrava. Passei às regiões onde depositei os sentimentos do espírito, e nem mesmo aí te encontrei. Entre na se a própria alma- pois o espirito também se recorda de si mesmo – e nem aí estavas.
Como não és imagem corpórea, e tampouco sentimento de um ser vivente como alegria, tristeza, desejo, temor, lembrança, esquecimento e outros semelhantes, assim também tu não podes ser o próprio espírito, porque és o Senhor e Deus do espírito. E enquanto todas essas coisas são mutáveis, tu permaneces imutável acima de todas elas. E te dignaste habitar na minha memória desde que te conheci. Mas por que procurar em que parte habitas, como se na memória houvesse vários compartimentos? É certo que nela habitas, pois recordo-me de ti desde o dia em que te conheci. E é aí que te encontro quando me lembro de ti.
Santo Agostinho Confissões
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