A solidão espanta muitas vezes as pessoas; provoca tédio e repúdio. Este
fenômeno é significativo, pois dá a ver que o ser humano não foi feito para
encontra em si mesmo a resposta às suas aspirações mais profundas; foi feito,
sim, para outrem.
O Cardeal Josef Ratzinger comenta o fato:
“A solidão é, sem dúvida, uma das raízes básicas das quais surge o
encontro do homem com Deus. onde o homem experimenta a solidão, verifica, ao
mesmo tempo, quanto a sua vida representa um brado pelo tu e quão pouco o homem
á apto a ser um puro eu, encerrado em si mesmo.
A solidão pode manifestar-se ao homem em profundezas diferentes. Primeiramente
ela satisfaz-se com o encontro de um tu humano.
Mas desdobra-se um processo paradoxal, descrito por Claude: cada tu que
o homem encontra, revela-se finalmente como uma promessa irrealizada e irrealizável,
porque todo tu, no fundo, representa de novo uma desilusão; há um ponto em que
encontro nenhum é capaz de vencer a derradeira solidão. E exatamente o achar e o ter-achado voltam a
ser um retorno à solidão, um grito pelo TU real e absoluto” (Introduçao ao Cristianismo, Herder, São
Paulo 1970, p. 68)
Em suma, o autor lembra que, para vencer a solidão, é espontâneo a
todo homem procurar outra criatura que possa compartilhar seus anseios e
responder-lhes. A experiência, porém, ensina que toda criatura é limitada, de
modo que as esperanças depositadas no encontro com um(a) semelhante são, cedo
ou tarde, desiludidas. Por mais que repita a busca de resposta em algum ser
humano, o homem se dá sempre por insatisfeito... E retorna à sua solidão de
origem, consciente de que só o Bem Infinito é capaz de responder aos seus mais
nobres desejos. Aflora assim, mais nitidamente do que nunca, a convicção de que
o homem é um brado vivo em demanda do Bem Infinito.
S. Agostinho ilustra esta procura de Deus: “Interroga a beleza da
terra, interroga a beleza do mar, interroga
a beleza do ar, que se dilata e difunde, interroga a beleza do céu...,
interroga todas essas realidades. Todas te respondem: ‘Vê, nós somos belas’. A sua
beleza é uma confissão. Essas coisas bela sujeitas à mudança, quem as fez senão
o Belo, não sujeito à mudança?” (sermão 241,2).
Possa a Quaresma em curso
propiciar o aprofundamento de tais verdades, principalmente numa fase da
história em que tantas decepções evidenciam ao homem o vazio das bolhas de
sabão!
Da Revista Pergunte e Responderemos de Março de 1993
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
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