"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O Mistério da Iniquidade...

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.

Em nossos dias, ao lado de exótico pulular de correntes religiosas, registra-se forte ateísmo prático, que se exprime na degradação de costumes da nossa sociedade, a ponto de se enumerarem novos pecados capitais: corrupção, cinismo, irresponsabilidade... (Folha de São Paulo, 3º cad., 7/4/96).

Esse declínio moral faz pensar em palavras de Max Planck (+1947), físico alemão, Prêmio Nobel 1918:“Existe um ponto na imensidade da natureza que... é e permanecerá inacessível a toda ciência e, por isto, a todo estudo de causas; esse ponto é o nosso eu... Um pequeníssimo ponto do universo, que constitui todo um universo, o universo que encerra em si, junto da mais profunda dor, a mais excelsa felicidade; o universo que abraça o complexo de nossos pensamentos, de nossos sentimentos e de nossos desejos e cuja posse ninguém nos pode arrebatar”.O cientista refere-se assim ao mistério do homem, que ele julga impenetrável. Em linguagem de fé pode-se desenvolver o pensamento de Planck, afirmando que o homem traz em si o sinete do Criador ou a marca do Transcendental. Cercado de bens transitórios, ele é inquieto à procura de Alguém que lhe satisfaça plenamente; e este é Deus. Com outras palavras; o homem é como a agulha magnética; foi feita para o Norte, que é invisível, mas que atrai intensamente; ela não descansa enquanto não se volta para o Norte (que no caso do homem é o Senhor).

Blaise Pascal (+ 1662) exprime o mesmo mistério, dizendo que o homem é um caniço frágil e quebradiço, mas um caniço pensante – o que lhe confere enorme dignidade e a capacidade de dominar montanhas e rios e até mesmo os espaços cósmicos; esse caniço é capaz de conceber a Verdade Absoluta e o Bem sem limites, de modo que ele os procura incessantemente.

São estes alguns eloqüentes testemunhos... Dão a entender que o senso de Deus é algo congênito no ser humano; somente uma deformação pode explicar a distorção da escala de valores ou a corrida ao dinheiro, à volúpia e ao poder, que são falsos deuses, aptos a desfigurar os seus clientes.
Carl Gustav Jung (+ 1961), em sua sabedoria de psicanalista, pode observar:Entre todos os meus pacientes que estavam na segunda metade da vida, isto é, tendo mais de trinta e cinco anos de idade, não houve um só cujo problema mais profundo não fosse constituído pela questão de sua atitude religiosa. Todos, em última instância, estavam doentes porque tinham perdido aquilo que uma religião viva sempre deu em todos os tempos aos seus adeptos; e nenhum se curou realmente sem recorrer à atitude religiosa que lhe fosse própria”.
Donde se vê que a perda de Deus é a perda do homem. – Tais reflexões interpelam os cristãos. Por que há tanto ateísmo degradante? Será que o sal da terra está perdendo o seu sabor? Será que a lâmpada do candelabro deixou empalidecer o seu brilho?
Sem o saber talvez, o mundo muito espera dos discípulos de Cristo.
Revista Pergunte e Responderemos
Junho 1996 – nº 409

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