"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

domingo, 28 de fevereiro de 2010

"Vigiai!" (Mc 13,37)

Dom Estêvão neste belo texto abaixo nos fala sobre a importância da Vigilância, especialmente neste Tempo da Quaresma, durante o qual vivemos a expectativa da Páscoa.

Vigiar é abster-se do sono da noite seja por motivo de trabalho, seja porque se espera algo muito importante, como a vinda de um amigo ou a de um inimigo (assaltante).
A vigilância é uma das atitudes mais incutidas por Jesus aos seus discípulos: “O que vos digo, digo-o a todos: Vigiai!” (Mc 13,37). Jesus assim faz do cristão alguém que espera... e espera a todo momento, incessantemente. E que espera? – Espera a vinda do seu Senhor que o levará à plenitude da vida ou dos dons já outorgados seminalmente na caminhada terrestre.
Não é difícil ao ser humano tomar consciência de que ele é um caminheiro à procura de valores que ele conhece palidamente e deseja possuir em plenitude, pois foi feito para eles: Verdade, Amor, Felicidade, Vida... Este anseio natural é sadio; vem da parte do Criador, que lhe quer satisfazer. Por isto o Cristianismo muito enfatiza o esperar com vigilância incessante.
Jesus prevê que tal vigilância seja submetida a provações; o Senhor não vem sempre à hora desejada pela criatura (cf. Mt 25,1-13); Ele se atrasa, Ele se cala quando se esperaria dele uma palavra de reconforto. Este comportamento do Senhor pode induzir o servidor a esquecer que ele é filho da Luz, que aguarda em meio às trevas da noite a plenitude da Luz.
As trevas implicam orgia, devassidão, libertinagem... (Rm 13.14), ao passo que a Luz exige sobriedade e alerta permanente, especialmente quando a noite se vai prolongando e não há sinal de próxima chegada do Senhor.
O Apóstolo chega a falar de uma armadura espiritual para enfrentar os dardos inflamados do Maligno, que faz a ronda durante a noite; cf. Ef 6,14-17; 1Pd 5,8.
A estima da vigilância suscitou entre os cristãos a prática das vigílias noturnas. A noite não somente é imagem do que há de pecaminoso no mundo; ela também propicia geralmente um clima de paz, que permite mais fácil elevação da alma a Deus; em sua presumida tranquilidade ela parece libertar o espírito de quem deseja passar do visível ao INVISÍVEL. Daí o hábito das vigílias noturnas não só nos mosteiros, mas também nas comunidades paroquiais,... hábito que parece ter estado em voga já nos tempos de São Paulo: “Fazei sempre, pelo Espírito, orações e súplicas. Ocupai com elas as vossas vigílias com perseverança infatigável” (Ef 6,18).
Assim a vigilância – atitude básica do cristão – é mais concretamente exercida nas trevas da noite, a exemplo, aliás do que fazia o Senhor Jesus (cf. Lc 6,12; Mc 1,35).
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
Revista Pergunte e Responderemos – Fevereiro 2003
Nº 488

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