"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sábado, 20 de março de 2010

“A Fim de Oferecerdes Sacrifícios Espirituais...” (1Pr 2,5)



O Apóstolo São Pedro exorta os fieis a exercer “um sacerdócio santo, a fim de oferecerem sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo” (1Pr 2,5). – Este texto, denso como é, merece aprofundamento.

1) Os cristãos constituem um povo sacerdotal. Já o povo da Antiga Aliança era designado como sacerdotal (cf. Ex 19,6); o do Novo Testamento, com mais razão, merece tal título, pois os cristãos pelo Batismo são enxertados em Cristo (cf. Rm 6,5) e assim participam do sacerdócio do Senhor; possuem o sacerdócio comum, que difere do sacerdócio ministerial conferido pelo sacramento da Ordem.

2) Como participantes do sacerdócio de Cristo pelo caráter do Batismo, os fieis, a seu modo, são cooferentes da oblação da Eucaristia, juntamente com o presbítero ou o Bispo; é a Igreja inteira que oferece o sacrifício de Cristo perpetuado sobre os nossos altares.

3) Mas os fieis não são apenas cooferentes; são também cooferecidos ou, melhor, oferecem-se com Cristo-Hóstia a Deus Pai. Sim; a vida do cristão é uma vida consagrada a Deus, mesmo quando ele realiza os atos da existência profana. Diz São Paulo: “Vivo eu, não eu; é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Isto quer dizer: o cristão não perde a sua identidade pessoal, individual, mas esta é assumida por Cristo; é a vida de um membro do Corpo de Cristo (cf. 1Cor 12,12-27), é a vida de um ramo do tronco de videira que é Cristo (cf. Jo 15,1-5). Essa vida do cristão é vivida no seu corpo, na sua carne, de modo que também as ações mais simples da vida do cristão hão de ser santas, para poder ser oferecidas na oblação do altar.

São Paulo, em outra passagem, “exorta os fieis a que ofereçam o seu corpo como hóstia viva, santa e agradável a Deus, pois este é o culto espiritual dos cristãos” (Rm 12,1). Espiritual, isto é, inspirado e vivificado pelo Espírito Santo, que habita no coração de cada fiel. É muito digna de nota a importância que o Apóstolo atribui à vida no corpo ou às ações corporais do cristão: “Alguém pagou alto preço pelo vosso resgate: glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo” (1Cor 6,20).

4) Quanto ao vocábulo “sacrifício”, S. Agostinho o explica pela sua etimologia; vem de sacrum facere, fazer sagrado, entregar a Deus. Sacrifício, portanto, é toda ação que nos põe em santa comunhão com deus, “omne opus quod agitur ut sancta societate inhaereamus Deo” (De Civitate Dei X 6). Se tal vocábulo lembra renúncia, esta sobrevém ao conceito de sacrifício pelo fato de que em nós existe o velho homem, egocêntrico, que resiste ao sacrifício ou ao “fazer sagrado, entregar a Deus”. Com o tempo, porém, essa resistência vai sendo vencida, pois o velho homem tem que morrer para dar lugar à nova criatura em nós.
Possam estas ideias recordar a todos os leitores a dignidade de sua vida cristã!
Estêvão Bettencourt O.S.B.

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