Padre Virgílio
Nós somos os “gregos” da situação, todos desejosos de o Cristo mais de perto, conhecê-lo, tocá-lo, medir a extensão de seu amor, conferir se é verdade que ele está mesmo disposto a dar a vida por nós...
Mas ele, para dar-se a conhecer, não nos convoca a contemplá-lo na hora em que reza ou quando faz seus discursos; quando multiplica o pão ou quando expulsa demônios. Convoca-nos ao pé da cruz. É à sombra dela que marca encontro conosco, porque é só lá que saberemos quem ele é e descobriremos o quanto nos ama e o que é capaz de fazer por nós; só lá é que nos será dado a desvendar como ele morre, por que ele morre e por quem ele morre.
É verdade que Cristo não está mais na cruz. Mas está bem presente nos crucificados de hoje, nos que sofrem discriminação e nos que passam fome; nos que moram nos cortiços, em barracos ou debaixo de viadutos; naqueles que condenamos à solidão dos asilos e naqueles que esquecemos nos hospitais; naqueles que empurramos para a rua da amargura e naqueles que abandonamos nas casas de correção...
É no meio dessa multidão sofredora que deve misturar-se quem quiser redescobrir o rosto de Cristo; rever o grão de trigo sendo pisoteado e enterrado; recobrar nova fé, nova esperança e novo amor.
Todos, porém, devemos aprender a ver o Cristo, não só n lado negativo da vida, como também no lado positivo. Infelizmente, somos cristãos um tanto pessimistas; prova disso é que promovemos a procissão do Senhor Morto, mas ainda não aprendemos a promover a procissão do Senhor Ressuscitado...
Não podemos liquidar o Cristo crucificado; porém, nem o Cristo glorificado. A esperança que no coração devemos carregar é que todo grão de trigo jogado na terra é garantia de primavera; todo sofrimento humano é promessa de vida nova; toda cruz levantada é certeza de ressurreição...
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