"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sábado, 28 de agosto de 2010

"A pobreza avizinha-nos sempre mais de Deus". São Franciso de Assis.

O Bispo Guido, amigo e protetor de Francisco, sabedor dos sacrifícios e privações por que tinham de passar quotidianamente os solitários de Rivotorto, em consequência da absoluta pobreza à que se haviam votado – mandando chamar Francisco, procurou, com muito tato, persuadi-lo a mitigar a rudeza daquela vida, sugerindo-lhe que os Irmãos poderiam, por exemplo, possuir algo em comum, tendo em mira que assim poderiam garantir-se uma côdea de pão mesmo à revelia dos maus que, por tê-los na conta de malfeitores, ficavam desejando vê-los sucumbir à míngua. Concluía o Prelado:

“Poderiam permanecer com uma pobre choupana, um catre duro cada um, e, quiçá, um pedaço de terra para cultura... Poderiam sair pregando pelo mundo, da mesma forma, sendo certo, porém, que sempre haveria um refúgio para os acolher, nos casos de enfermidade e na velhice... Por mim, estou disposto a dar os passos necessários...”

Francisco, todavia, manteve-se inabalável nos seus propósitos, e respondeu respeitosamente:

“Excelência, se nós possuíssemos bens de fortuna, estaríamos do mesmo passo, forçados a possuir armas, para os defender contra quem deles nos quisesse explorar pela força das mesmas armas. Da propriedade nascem fatalmente litígios e guerras, que têm o efeito de prejudicar o amor de Deus e do próximo. Para conservar em nós este amor, intacto e puro, estamos decididos a nada possuir nesse mundo, e pretendemos persuadir a todos de que a pobreza é doce e nos avizinha sempre mais de Deus".

O Bispo inclinou a cabeça, meditativo, e sentiu que não tinha direito de intervir e tão pouco de dificultar o sublime ideal daquele Arauto do Evangelho. Abraçou-o comovido, e, declarando-lhe sua admiração, despediu-o com muita afabilidade.

A constância de Francisco tinha culminado noutra vitória; ele, entretanto, longe de se vangloriar disto, sentiu bem no seu íntimo toda a humilhação que lhe advinha do fato de reconhecer sua própria incapacidade de miséria. E, voltando-se para Deus que se havia dignado de o assistir, confirmando-lhe a escolha de seu caminho, exclamou, com todo o ardor de sua alma: “De minha perversidade, receio tudo; tudo espero, porém, de tua Bondade”.

Repassando mentalmente o seu passado, ao tempo que malbaratara por efêmeras alegrias terrenas – tremia pela força do arrependimento, aniquilando-se sob o ímpeto da vergonha: “Quem és tu, quem és tu, ó meu Deus e Senhor? E quem sou eu, miserável verme da terra?”

Assim exclamava ele então; e as doces lágrimas da gratidão, rolavam incessantemente de suas pálpebras.

G. Russotti – São Francisco de Assis

Nenhum comentário: