"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Castidade: Que é? - O sentido da castidade...

Chama-se castidade o reto uso das funções sexuais. Estas existem no ser humano, por desígnio do Criador, a fim de proporcionar ao homem e à mulher complementação mútua, da qual a prole é muitas vezes a expressão natural.

O Senhor Deus quis anexar às funções da natureza um prazer, que tem o papel de estimular o exercício das mesmas. Assim à alimentação, indispensável para a conservação do indivíduo, se liga um atrativo espontâneo. Também a vida sexual, necessária para a conservação da espécie, é incentivada por um prazer anexo. Tal prazer, porém, é um concomitante, e não a finalidade das funções naturais. Acontece, porém, muitas vezes que o indivíduo procure apenas o prazer, com exclusão da finalidade do mesmo – o que pode redundar em degradação da pessoa humana; tal é o caso de quem come só pelo prazer de comer, e também o de quem recorre à sexualidade apenas pelo prazer erótico. Quem se entrega a tal prática, facilmente se torna escravo de paixões violentos, que humilham a pessoa; as paixões fazem capitular a razão.

Recorda S. Agostinho, falando ao Senhor: “Adolescente muito miserável, sim, miserável no limiar mesmo da adolescência, eu Vos pedira a castidade. Dissera: ‘Dai-me a castidade, a continência, mas não ma deis de imediato’. Sim; eu receava que, se me atendêsseis logo, me curaríeis dessa doença da concupiscência, que em última instancia, eu queria alimentar mais do que dominar” (Confissões VIII 7). Depois de certo tempo, as paixões enojam o indivíduo, sem que veja como libertar-se de tal situação. É São Tiago quem diz: “Cada qual é tentado pela própria concupiscência, que o arrasta e seduz” (Tg 1,14).

A castidade não é a primeira das virtudes; a primeira, a que está na base da vida cristã, é a fé. A consumação desta é a caridade, que São Paulo chama “o vínculo da perfeição” (Cl 3,14). A castidade, porém, suscita o clima necessário para que estas duas virtudes desabrochem e, com elas, as demais. Isto é evidente no que concerne a fé: muitas vezes os afetos desregrados prejudicam o modo de pensar da pessoa; diz muito sabiamente o ditado popular: “Quem não vive como pensa, acaba pensando como vive”; S. Agostinho observa que, enquanto cedia às paixões , não conseguia encontrar a verdade (Confissões X 41). Também a caridade (o amor) se ressente da falta de castidade, pois o homem carnal se torna egoísta, manipulador, fechado aos interesses alheios. A vida casta é bela, pois permite a manifestação do específico humano, ou seja, permite a elevação das funções vegetativas e sensitivas ao plano espiritual; sem ser sufocadas, tais funções entram na construção de alguém que foi feito à imagem e semelhança de Deus.

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B

A seguir: Graus de castidade

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