"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Graus de castidade...

Distinguem-se diversos graus de modalidade de vida casta: a pré-matrimonial, a matrimonial, a consagrada a Deus e a pós-matrimonial.

1) A castidade pré-matrimonial consiste na abstenção do uso do sexo. Verdade é que o indivíduo durante a vida inteira é marcado pelas características masculinas e femininas de seu sexo (timbre de voz, tipo de pele, de mãos...), das quais ele não se pode isentar; mas nem por isto está obrigado ao exercício da sexualidade, que se chama “a genitalidade”. Sem dúvida há quem julgue que este é obrigatório desde que desperte o apetite sensual no adolescente; tal concepção é falsa; ao contrário, está comprovado que a continência pré-matrimonial é fator de saúde e penhor de fidelidade e felicidade no casamento. Para conseguir viver a castidade pré-matrimonial, o jovem há de estabelecer a hierarquia dos valores, não se deixando levar pela errônea concepção de que a castidade é um imperativo inexorável; convença-se do contrário, e terá êxito, pois a mais poderosa “glândula sexual” do homem é o cérebro, com o qual pensamos e com o qual concebemos imagens e fantasias. A vitória sobre as paixões desregradas requer também o treinamento da vontade, que deve ser bastante forte para dizer Sim e dizer Não quando o bom sendo o exija.
A propósito muito se recomenda o livro de João Mohana: Vida Sexual dos Solteiros e Casados. Ed. O GLOBO.

2) A castidade matrimonial consiste em que os cônjuges pratiquem a genitalidade em respeito mútuo, sem concessão a afetos desordenados, e em conformidade com as leis da natureza. Em consequência, o sexo oral, o sexo anal e o homossexualismo, por serem aberrações que ferem a natureza, são rejeitados pela Lei de Deus. Todavia não é vedado aos esposos desejosos de evitar filhos manter relações sexuais quando a própria natureza é estéril; nisto não há derrogação às normas do Criador, que propiciam periodicamente ao organismo feminino um repouso necessário à saúde.

3) A castidade consagrada, nos casos femininos, é chamada virgindade consagrada (embora possa existir após a perda, voluntária ou involuntária, da virgindade física). Nos casos masculinos, é o celibato. Consiste na entrega de todo o ser humano com seus afetos diretamente ao Senhor e ao serviço do seu Reino. Corresponde a uma vocação especial e supõe um dom próprio do Senhor (cf. 1Cor 7,7); não implica menosprezo do matrimônio, que é santificado por um sacramento, mas, de certo modo, vem a ser baliza ou referencial para todos os cristãos, pois todos, direta ou indiretamente, são chamados a se consagrar ao Senhor e aos interesses do seu Reino.

4) A castidade pós-matrimonial ou da viuvez também é bela; tem seu protótipo na figura bíblica de Judite, a viúva fiel ao Senhor, que salvou seu povo, munida de um dom especial. São Paulo, em suas epistolas pastorais, atribui às viúvas na Igreja funções próprias, correspondentes à sua experiência de vida (cf. 1Tm 5,3-16).

Conclusão

A castidade é preciosa especialmente em nossos dias, quando muitas pessoas, impelidas pelo erotismo, se tornam vítimas do vazio e da frustração, e não veem mais sentido para a sua vida; as drogas e o suicídio as ameaçam. A prática da castidade é um sinal que chama a atenção, pois mostra que alguém pode ser plenamente feliz e realizado atendendo a outros apelos que não os das paixões desregradas; manifestam-se assim outros valores que o Senhor Jesus apregoou e o Apóstolo São Paulo explanou muito enfaticamente (cf. Mt 19, 12; 1Cor 7, 25-35). É em Deus e na fidelidade incondicional aos seus desígnios que a criatura encontra a sua consumação.

Para poder viver a castidade, recomendam-se três elementos muito importantes: 1) a educação da vontade (como dito atrás), sem a qual ninguém atinge meta alguma; é ilusório crer que, dizendo Sim a todos os impulsos, alguém possa conseguir felicidade e auto-realização; 2) o pudor, que é o respeito pelo corpo, templo de Deus; é também a delicadeza de ânimo, que reconhece o sentido transcendental das funções que o homem tem em comum com os outros viventes na terra; 3) a oração, fonte de força e nobreza de ideal para todos os homens; nunca pode faltar na vida de um cristão, pois é a alavanca que o ajuda a sair de toda fossa e encruzilhada e lhe comunica o indizível sabor da presença de Deus, muito mais atraente do que qualquer outro.

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.

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