3.2. Preconceitos contra a fé cristã
Numa atitude antintelectualista, muitos se fecham em preconceitos contra a fé; deixam-se guiar não pela razão, mas por sentimentos, “opções” ou displicência. Julgando que a análise objetiva e racional do fato religioso é impossível ou não merece ser feita, assumem atitudes arbitrárias, que tais pensadores não saberiam justificar aos seus próprios olhos.
É certo que, da parte das pessoas de fé – digamos: ... dos cristãos -, tem havido motivo para certa aversão à fé; assim as falsas interpretações da Bíblia, a piedade adocicada ou sentimental, os contra-testemunhos decorrentes da fragilidade humana... Muitos confundem o Cristianismo com aberrações teóricas ou práticas que são apresentadas ao público; julgam que, para ser cristão, é preciso renunciar à inteligência ou à cultura. Grande número desses pensadores que se dizem ateus, na verdade não desdizem à fé no verdadeiro Deus (que eles não conhecem), mas rejeitam as distorções da autêntica noção de Deus.
Tal situação requer, do lado dos cristãos, uma revisão do testemunho que dão ao mundo a fim de o expurgar de deformações e, do lado dos ditos “ateus”, o uso da razão, a fim de que possam ter conceito mais claro da mensagem da fé e saibam distinguir do acidental o essencial ou das facetas contingentes a verdade perene professada pela fé.
4. Conclusão
Ao invés do que muitos pensam, a mensagem cristã se prende estritamente ao uso da razão e ao estudo das ciências experimentais. É preciso banir a suspeita de divórcio entre aquela e estas. Verdade é que o estudo não prova a verdade intrínseca das proposições de fé, mas serve para alicerçar a crença. A onda de antintelectualismo vigente nos últimos decênios prejudica a vida cristã; esta se torna, em consequência, algo de subjetivo, sentimental, inconsistente e sujeito a perder sua identidade. As proposições de fé se dirigem à inteligência humana e não apenas ao coração. – A inteligência foi dada por Deus ao homem para que este não somente descubra as verdades acerca do mundo contingente e material, mas também chegue ao conhecimento de Deus como Princípio e Fim de todas as coisas.
Especialmente os resultados das ciências naturais – e da própria astronomia – interessam grandemente aos cristãos. A Bíblia não ensina proposições de ordem científica sobre a constituição e a origem do mundo e do homem; a sua doutrina é de índole sapiencial ou teológica, de modo que nunca se poderá dizer que há antagonismo entre a mensagem bíblica e as ciências naturais.
A propósito muito nos valemos do estudo de Claude Tresmontant: L’Ateismo in questa fine del ventesimo secolo dal punto di vista scientifico e razionale, publicado na coletânea L’Ateismo: natura e cause, pp. 127-155. Milano 1981.
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
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