"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ateísmo e Ciência? - Por que há tanto ateísmo hoje?



3. Por que há tanto ateísmo hoje?

Apontaremos duas grandes causas de tal fenômeno.

3.1. Preconceito contra a Metafísica

A Metafísica é a reflexão que se estende para além das coisas físicas ou naturais: é o estudo que procura não somente as causas próximas, mas as causas remotas ou as causas das causas, e assim vai penetrando dentro do recôndito do que é ou do Ser; atinge o Invisível através do visível. Se, por exemplo, vejo um raio, sinto a necessidade de explicá-lo; pesquisando cientificamente, chego à conclusão de que é o efeito de um choque elétrico; mas minha mente pode não se dar por totalmente satisfeita com esta resposta e, por conseguinte, indago ulteriormente: donde vem a eletricidade?... Por que existe ela? Quem lhe deu a existência? Assim aos poucos vou cultivando a metafísica (meta = além; physiká = as coisas naturais).

A Metafísica foi muito estimada pelos pensadores até a época moderna. Immanuel (+ 1804) quis dar-lhe um golpe mortal, afirmando que só conhecemos fenômenos sem poder penetrar nas suas causas; não atingimos a realidade em si mesma ou como tal. Augusto Comte (+ 1857) tomou posição semelhante, recusando todo conhecimento que ultrapasse o das ciências empíricas, Friederich Nietzsche (+1900), Sigmund Freud (+1939) e seus discípulos também proclamaram a morte da Metafísica. – Tal negativa influenciou não somente os materialistas, mas também os cristãos; vários destes, embora reconheçam a existência de Deus e dos valores transcendentais, julgam que estes não podem ser atingidos pela razão, mas unicamente pela fé. A crença em Deus e nas verdades religiosas seria algo alheio ao setor da razão; seria uma espécie de convicção que não se poderia justificar ou explicar racionalmente. Assim há pensadores cristãos que são Kantianos e nos dizem que a análise metafísica do mundo e da natureza é impossível; a afirmação da existência de Deus nada teria que ver com o estudo da natureza e do universo; não seria possível uma filosofia da natureza. Tais pensamentos cristãos se encontram assim com os marxistas e os freudianos, e esse encontro é geralmente fatal para eles, isto é, implica muitas vezes a perda mesma da crença em Deus. Com efeito: sem fundamento na lógica e nas categorias da razão, qualquer opção é meramente subjetiva e arbitrária, carente de solidez e incapaz de se transmitir de maneira convincente.

A recusa da filosofia da natureza leva ao velho materialismo do século passado¹, o qual afirmava que, destruído o cérebro, se destrói a consciência humana e se tem a morte absoluta, ou ainda... que a destruição do corpo humano é a destruição da própria pessoa.

Na verdade, o que é impossível é destruir a Metafísica ou não cultivar a Metafísica. Com efeito; já Aristóteles (+ 322 a.C.) dizia: “Se é preciso filosofar, filosofemos. Se não é preciso filosofar, filosofemos ainda para provar que não é preciso filosofar”. O que significa: negar a Metafísica ainda é fazer Metafísica. Negar a finalidade do universo ou negar Deus é afirmar que o mundo é regido por mecanismos e, em última análise, pelo acaso. Ora quem postula tais mecanismos, de certo modo está praticando a Metafísica ou está admitindo algo que a ciência não prova. Quanto ao recurso ao acaso, é a capitulação da razão; o acaso é o nome “ilustrado” ou “bonito” que o homem dá à sua ignorância, pois não existe acaso como sujeito ou não existe o “Sr. Acaso”; este é apenas o cruzamento, para nós imprevisto, de causas que têm sua finalidade e sua razão de ser bem especificadas (pelo fato de não termos previsto que essas causas se encontrariam, surpreendemo-nos e dizemos que isto se deu por acaso).

A seguir: Preconceitos contra a fé cristã e Conclusão
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¹ Século XIX – Este texto é escrito em 1987

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.

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