A cosmologia contemporânea, estudada sem preconceitos, não se concilia com o ateísmo. Com outras palavras: o ateísmo, do ponto de vista científico, é inconcebível ou impensável. Ele só pode ser professado e proclamado nas escolas e nas Universidades por quem não queira levar em conta as conclusões das ciências cósmicas modernas. Por isto nota-se que famosos pensadores ateus do nosso século nutriram desprezo pelas ciências naturais.
Com efeito. Tal foi o caso de Jean-Paul Sartre, que pretendia ignorar as ciências experimentais e desdenhava a pesquisa das realidades físicas e biológicas. Martin Heidegger, existencialista, também menosprezava os estudos experimentais. Diga-se o mesmo a propósito de Albert Camus (1913-1960), para quem o mundo é absurdo.
Entre os filósofos marxistas da Cortina de Ferro, que naturalmente professam o ateísmo, instaurou-se uma crise quando os cientistas ou físicos quiseram desenvolver as consequências da lei da entropia. Esta contradizia às premissas do ateísmo, que, para subsistir, tem de admitir a eternidade da matéria ou, ao menos, deve ignorar as conclusões das ciências físicas contemporâneas. Foi optando por esta alternativa que muitos resolveram o problema na Rússia, na Polônia, na Romênia (na França também...); julgam que é impossível uma Filosofia da Natureza ou uma filosofia das ciências experimentais e a ontologia marxista; para eles, o marxismo se reduz a uma filosofia da história, ao passo que para Marx, Engels e Lenin ainda era uma filosofia da natureza ou uma ontologia, que admite o universo envolvido num processo cíclico, para o qual não havia necessidade de procurar explicação da causa remota, pois o universo se explicaria por si mesmo. – Aliás, é interessante notar que tanto Engels como Nietzsche e Heidegger se referem frequentemente aos mais antigos filósofos gregos (Heráclito, Parmênides, Xenófanes, Anaximandro); outros ateus se apóiam em Demócrito e Leucipo, atomistas gregos, todos eles falhos no tocante à investigação científica, mas tidos como válidos para eliminar o conceito de um Deus distinto do mundo e Criador deste. Também a filosofia panteísta dos estóicos é evocada pelos autores ateus modernos, pois esta admite o Logos (a Razão) imanente do universo, Logos que tornaria o universo inteligente a harmonioso sem o recurso a um Deus Criador; assim, mais uma vez, o universo com suas leis se explicaria por si mesmo.
Vê-se, pois, que o conflito fundamental entre o ateísmo moderno e o monoteísmo (que tem suas raízes no pensamento hebreu) vem a ser o confronto entre uma cosmologia que faz do universo um Absoluto, que não precisa de explicação ulterior, e uma filosofia que relativiza e dessacraliza o universo, reduzindo-o à categoria de mera criatura de um Ser Supremo distinto do mundo e do homem. Quem terá razão neste confronto? – A resposta só pode ser deduzida da observação da realidade objetiva, observação despojada de qualquer preconceito e guiada unicamente pela evidência das ciências experimentais. Ora quem segue este método, verifica com muita clareza que os antigos filósofos gregos e os seus discípulos modernos na tinham nem têm razão.
Resta agora perguntar: Por que há tanto ateísmo hoje? (a seguir)
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
Nenhum comentário:
Postar um comentário