"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Destino existe? continuação - Pensamento Cristão

2. Pensamento Cristão

O pensamento cristão é essencialmente contrário à existência de qualquer força cega que empurre o homem a agir deste ou daquele modo. Entre Deus e as criaturas humanas não há semideuses nem algum ser misterioso que obrigue o homem a fazer algo.

Deus criou o homem livre e deixa-lhe a liberdade de opção e ação. Nem mesmo o Maligno ou o Demônio pode coagir alguém a cometer o mal; o demônio pode sugerir o pecado, tentando a criatura humana, mas não pode forçar ao mal; excetue-se apenas o caso da possessão diabólica; nestas circunstâncias, porém, o possesso não é responsável pelo mal que comete.

Muito sabiamente dizia Santo Agostinho que o demônio é um cão acorrentado, que pode ladrar muito, mas só faz mal a quem se lhe chegue perto. O mundo pagão admitia o Destino ou Fato, porque tinha concepções imperfeitas a respeito da Divindade; concebia-se à semelhança do homem, o que dificultava entender o que a linguagem cristã chama “Providência Divina”.

O Fato ou Destino da mitologia é figura fantasiosa ou fictícia, como também o encadeamento cego de causas e efeitos, sufocador da liberdade, é algo de irreal, decorrente de errôneas noções da Divindade e de seus atributos.

Jesus Cristo veio libertar o homem de todas as crendices e de todos os pavores derivados da imaginação, e anunciou ao homem que ele é livre, devendo responder diretamente a Deus por suas opções e atividades.

Destas premissas deduzimos conclusões importantes:

1) Os despachos ou trabalhos das religiões afro-brasileiras nada podem fazer contra quem quer que seja; carecem de eficácia ou de força mágica. Verdade é que vários fieis católicos se afligem porque sabem que alguém ou algum adversário está fazendo despachos contra eles e vão procurar a Igreja para pedir um exorcismo. Há também quem se julgue desgraçado por causa de um “trabalho” de Umbanda e vai solicitar um exorcismo na Igreja. Ora, tal modo de pensar é errôneo, não existem exus e orixás, de modo que são totalmente ineficazes as oferendas de galinha preta, farofa, cachaça, charutos... que se lhes façam; nenhuma entidade do além acode a essas oferendas. O demônio, que a Escritura e a fé católica reconhecem, não é exu nem orixá; é um anjo que Deus criou bom e que se perverteu pelo pecado da soberba; recebe agora a autorização de Deus para tentar o homem e levá-lo ao pecado, se a pessoa tentada consentir nas sugestões do Maligno; o que Satanás quer é o pecado; não lhe importam a galinha preta, a farofa, a cachaça... oferecidos aos pretensos orixás. Por conseguinte, nenhum despacho causa desemprego, destruição de casamento, doença..., a não ser que a pessoa alvejada pelo despacho creia que este é eficaz; se o crê, sugestiona-se, julga-se condenada a um infortúnio e, insegura, pode precipitar-se numa desgraça ou deixar-se envolver num acidente; em tal caso, a eficácia não é do despacho, mas da sugestão,... sugestão que a pessoa concede por imaginar que o despacho é eficaz.

2) Nenhum objeto de superstição faz bem ou mal a alguém. Daí se segue que o cristão não dá crédito a figas, bentinhos, amuletos. Estes podem sim desencadear a sugestão que é eficaz, como dito, mas por causa de uma atitude subjetiva, sem fundamento objetivo ou real.

3) O cristão não crê em horóscopo, como se os astros definissem o futuro do homem. Verdade é que, desde épocas antigas, os homens imaginaram estar debaixo do poder dos astros, tão belos e pujantes parecem. Os antigos escritores da Igreja relutaram contra tal concepção, remanescente entre os cristãos. Podem os astros, em alguns casos, influir sobre o físico e o psíquico do homem, causando reações psicossomáticas (melancolia, júbilo, depressão...), o que não significa traçar o futuro do homem.

4) O cristão também não crê em cadeias de orações, ou seja, em preces que é preciso copiar umas tantas vezes e passar adiante, sob pena de sofrer alguma desgraça, caso não o faça, ou com a perspectiva de receber algum benefício, desde que o execute. Não há fundamento para crer no valor de tais correntes de orações, vêm a ser uma contrafação da verdadeira oração; esta nada tem de mágico, mas é um recurso filiar a Deus, que vale pela fé, o amor e a humildade com que a criatura reza ao Pai do céu.

5) O cristão também não aceita a “mística dos números”, segundo a qual alguns números são portadores de boa sorte e outros são de mau agouro. Nem o número treze é mau, nem o número 666...

6) Em suma, o cristão não crê que as coisas acontecem porque Deus as decretou cegamente, sufocando a liberdade do homem; Deus sabe tudo o que acontecerá no futuro, pois Ele nada pode ignorar. É de notar, porém, que a presciência não é ditatorial; Deus prevê que os homens, livremente, farão tais e tais coisas; paralelamente alguém, a partir de uma janela, pode prever que dois veículos se chocarão entre si; pode ter certeza disto, sem ser causa do desastre.

O Cristianismo repudia o Destino, conceito mitológico, e, em seu lugar, professa a Providência Divina.

A seguir: A Providência Divina

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B. – Católicos Perguntam

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