"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Somente a fé? Não as obras? Conclusão

3. Conclusão



Em suma, verifica-se estar superada a polêmica protestante-católica acerca da fé e das obras. Muito a propósito vem o testemunho do teólogo Pe. Louis Bouyer, que foi protestante e se tornou católico; escreveu, em consequência, a obra “Du Protestantisme à l’Eglise” (Do Protestantismo à Igreja), donde extraímos o seguinte trecho:

“Chegou o momento de pôr em plena luz que a intuição fundamental de Lutero e aquela na qual o Protestantismo não deixa de haurir a sua vitalidade permanente, longe de se opor à tradição católica, converge de modo retilíneo com essa tradição e com os elementos mais certeiros do ensinamento católico.

É desnecessário enfatizar a importância deste fato e quanto ele deve ser posto em plena luz. Com efeito, se pudéssemos convencer disto protestantes e católicos, o fundamental antagonismo que opõe o protestantismo à Igreja, já não teria razão de ser. Tornar-se-ia claro que o protestantismo, formulado no que ele tem de essencial aos olhos dos próprios protestantes, não deveria ser tido como cisma ou heresia...

Tomado como tal, desenvolvido homogeneamente, o princípio fundamental da Reforma – sola gratia, sola fides – nada tinha que levasse á divisão e ao erro. O surto destes (divisão e erro)... deve ser considerado como acidental. O cisma e a heresia do século XVI... não provêm do ímpeto inicial do protestantismo, mas de fatores adventícios que alteraram a sua evolução” (ob.cit., p. 45).

As palavras de Bouyer merecem toda a atenção, pois são sabias e verídicas. É para desejar que se apaguem os elementos heterogêneos que levaram a intuição de Lutero ao cisma, e se restaure a unidade entre os irmãos que professam integralmente a mensagem do Novo Testamento a respeito da fé e da graça.

Ainda é de notar o seguinte: o teólogo luterano Hans Joachim Iwand, ao rever em 1939 uma obra sobre a justiça da fé escrita quase vinte anos antes, teceu as seguintes considerações, que constam do Postfácio da obra tal como foi publicada em português pela Editora Sinodal de São Leopoldo (RS):

“Este livrinho deveria ser totalmente reescrito. Têm sido levantadas, em especial por parte da dogmática, tão sérias e importantes perguntas à teologia de Lutero que hoje, se tivesse de reinterpretar de novo a doutrina da justiça da fé e da justificação de Lutero, eu não poderia deixar esses problemas tão de lado como aqui dá a impressão de ter ocorrido” (obra citada, p.109).

Tais testemunhos são assaz significativos para que se perceba quão próximos entre si estão católicos e protestantes no tocante à justificação.

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B. – Diálogo Ecumênico

Nenhum comentário: