"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Somente a fé? Não as obras?

Entre os diversos pontos que distanciam entre si católicos e protestantes, costuma-se enumerar o famoso adágio de Lutero “Sola fides”; somente a fé justifica ou tornaria o homem amigo de Deus; não teriam valor as boas obras. O mesmo adágio está intimamente ligado a outro: “Sola gratia” (somente a graça, e não o esforço humano, salva).¹ Os católicos, ao contrário, valorizariam as boas obras e incitariam à prática das mesmas – o que, segundo os protestantes, redundaria em desabono da graça e da soberania de Deus; o homem assim tornar-se-ia comprador da sua salvação.

Durante séculos (XVI-XX) a tese da “sola fides (sola gratia)” foi tida como obstáculo à aproximação dos cristãos protestantes e católicos; o clima de disputa gerado pelo século XVI dificultou a consideração serena o objetiva dos pontos de vista católico e protestante. Em nossos dias, porém, já se percebe que a posição de Lutero foi motivada por circunstâncias próprias da sua época; uma vez passadas tais circunstâncias, verifica-se que a posição protestante e a católica, em última análise, não se opõem drasticamente entre si, mas convergem, pois ambas se derivam da S. Escritura ou, mais propriamente, do pensamento neo-testamentário.

Eis por que exporemos a doutrina de Lutero sobre o pano de fundo do século XVI. A seguir, procuraremos mostrar a convergência da doutrina católica e da protestante (o protestantismo em suas diversas denominações seguiu sempre a posição de Lutero).

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B. – Diálogo Ecumênico

Veremos:

1. Fé e obras, segundo Lutero
1.1. Correntes filosófico-teológicas
1.2. O temperamento pessoal de Lutero
1.3. A fé fiducial ou fé-confiança
2. O primado da graça e da fé
2.1. Pontos de convergência
2.2. Proposições católicas
2.3. Ulteriores ponderações
2.3.1. Fé
2.3.2. Natureza humana e justificação
3. Conclusão
___________

¹ Entenda-se por graça o dom gratuito, soberano e objetivo de Deus, ao qual deve responder, da parte do homem, uma atitude subjetiva, que é a fé. Graça e fé são inseparáveis uma da outra, ao menos na teologia protestante dos primeiros tempos da Reforma.

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