"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Jesus teve irmãos? Quem eram os “irmãos”?


Alguns textos do S. Evangelho fornecem pistas para a resposta.

Com efeito Mt 27,56 nos diz que, entre as mulheres que assistiram à crucifixão de Cristo, estava Maria, mãe de Tiago e José:

“Estavam ali, a observar de longe..., Maria de Mágdala, Maria mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Uebedeu”; cf. Mc 15,40.

Essa Maria, conforme Jo 19,25, não é esposa de São José, mas de Cleofas e, segundo a interpretação mais óbvia, a irmã de Maria, mãe de Jesus:

“Estavam junto à cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria (esposa) de Cleofas, e Maria de Mágdala.”

Pois bem; os nomes Cleofas e Alfeu designam a mesma pessoa: Klopas parece ser a forma grega de apelativo aramaico Claphai, ao passo que Alphaios ou Alfeu é a transcrição direta desse vocábulo aramaico. Como refere Hegesipo (séc. II), o mais antigo historiador da Igreja, Cleofas ou Alfeu era irmão de São José.

Cleofas, portanto e Maria de Cleofas eram os genitores de Tiago e José; tinham um terceiro filho, Judas, o qual no início da sua epístola se apresenta como irmão de Tiago (este Tiago só pode ser o filho de Cleofas, não de Zebedeu), pois não era irmão de João Evangelista; confira-se Mt 13,55, onde Tiago, Judas e José, não João, são chamados irmãos.

Quanto a Simão, o quarto dos irmãos de Jesus, Hegesipo o apresenta também como filho de Cleofas. Por conseguinte, os quatro irmãos do Senhor seriam primos de Jesus por descenderem de uma irmã de Maria Santíssima, também chamada Maria, irmã casada com Cleofas, irmão de São José. Há quem não aceite que duas irmãs, vivendo contemporaneamente, tenham tido o mesmo nome “Maria”. A dificuldade, porém, perde muito do seu peso se se levam em conta os costumes dos antigos: entre outros, pode-se citar o caso de Otávia, irmã do Imperador Augusto, a qual tinha quatro filhas vivas ao mesmo tempo: duas delas chamavam-se “Marcella” sem cognome, e as duas outras “Antonia”. O nome “Maria” era, de resto, muito frequente na Galileia. – Outros objetam que Maria não podia ter irmã, devia ser filha única, única herdeira; isto explicaria que haja sido obrigada a tomar esposo, e a escolhê-lo dentro da sua parentela, a fim de que a herança continuasse em poder da mesma linhagem. Quem, na base destes argumentos, não queira admitir que Maria, esposa de Cleofas, tenha sido irmã de Maria, esposa de José, poderá muito bem interpretar o texto de Jo 19,25, atrás transcrito, como se quatro, e não três mulheres tivesse estado ao pé da cruz; distinguir-se-iam então Maria mãe de Jesus, a irmã anônima des ta, a seguir, Maria esposa de Cleofas, e Maria de Mágdala. Neste caso, os filhos de Cleofas ainda seriam ditos com razão “primos” de Jesus, pois Cleofas era irmão de São José, pai putativo ou legal de Jesus.

Fica aberta apenas a questão: Maria, esposa de Cleofas, era irmã de Maria, mãe de Jesus?

O mesmo esquema explica bem as íntimas relações que uniam as famílias de Cleofas e São José: provavelmente este Patriarca morreu antes do início da vida pública de Jesus, como dito atrás. Parece então que Maria SS. Se re tirou com seu Divino Filho para a casa de seu cunhado, de sorte que as duas famílias se fundiram como numa só. – Outros pensam que foi Cleofas quem primeiro morreu; em consequência, José teria recebido em sua casa a viúva e seus filhos, primos de Jesus.

A título de ilustração, seja ainda mencionada uma sentença que de pouca ou nenhuma probabilidade goza no assunto: os “irmãos de Jesus” seriam filhos de José nascidos de um primeiro matrimônio do Patriarca. Este, viúvo e de certa idade, se teria casado com Maria. Esta sentença explicaria a posição autoritária que os “irmãos” (primos) de Jesus” assumiam em relação ao próprio Jesus, pois seriam semi-irmãos, mais velhos do que Jesus. Todavia contra tal sentença está o fato decisivo de que a mãe de dois desses irmãos do Senhor (José e Tiago) ainda estava via quando Jesus morreu na Cruz.


Outra sentença, de pouca autoridade, afirma que os “irmãos de Jesus” eram filhos adotivos de São José. – Não há necessidade nem possibilidade de prolongado estudo desta sentença, que hoje carece de voga.
Em debates sobre o tema, é por vezes citado o texto de São Paulo, 1Cor 9,5; “Não temos o direito... como os outros Apóstolos, os irmãos do Senhor e Cefas?” – Esta passagem não implica que os irmãos do Senhor devam ser excluídos do grupo dos Apóstolos; em tal caso, Cefas também não poderia ser considerado apóstolo. São Paulo faz a tríplice enunciação acima apenas para realçar os graus de dignidade dos que compunham o grupo dos Apóstolos: logo depois de Pedro (sempre o primeiro na lista), vinham “os irmãos (primos) do senhor”, que gozavam de especial autoridade na Igreja antiga.

Estas considerações levam a concluir que a expressão “irmãos de Jesus” não obriga a dizer que Maria teve outros filhos além de Jesus. Pode-se mesmo afirmar que somente a falta de conhecimento exato da linguagem bíblica e dos textos concernentes ao assunto fundamenta a tese de que Maria foi mãe dos “irmãos de Jesus”. O estudo preciso e objetivo das Escrituras dissuade de tal sentença.

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
Diálogo Ecumênico

SAGRADA FAMÍLIA, ROGAI POR NÓS!

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