"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sábado, 14 de maio de 2011

Maria, Virgem Mãe


A proposição de que Maria foi virgem e mãe ou mesmo “a sempre Virgem Maria” é estranha tanto a bom número de cristãos como, em geral, à mentalidade moderna. Pergunta-se, pois: terá fundamento bíblico? Se o tem, não deverá ser entendida em sentido metafórico, mais “razoável” do que o sentido literal? – A tais perguntas serão dedicados o presente capítulo.
Maria, Virgem e Mãe
Os temas abordados por Dom Estêvão Bettencourt O.S.B. em seu livro 'Diálogo Ecumênico' serão postados em partes.
1.       A “sempre Virgem Maria!
1.1.  Antes do parto
1.2. No parto


Virgindade após o parto.       Dúvidas
3.       Significado positivo
Apêndice
Carta a um católico romano

          1.       A “sempre Virgem Maria”

A fé cristã através dos séculos afirmou a virgindade de Maria tal como se acha expressa na fórmula “antes do parto, no parto, depois do parto”.

             1.1.  Antes do parto

Os Evangelhos asseveram repetidamente que Maria Virgem concebeu o Filho de Deus sem a intervenção de semente humana. Tenham-se em vista os textos de

Mt 1,18-20: “Deu-se assim a concepção de Jesus Cristo. Maria, sua mãe, estava desposada com José. Antes, porém, de habitarem juntos, achou-se grávida pelo poder do Espírito Santo.

José, seu esposo – que era homem justo e não a queria difamar – deliberou repudiá-la secretamente. Estava ele neste pensamento, quando lhe apareceu em sonho um anjo do Senhor e lhe disse: ‘José, filho de Davi, não tenhas medo de receber em tua casa Maria tua esposa, pois foi pelo poder do Espírito Santo que ela concebeu’.”

Lc 1,26s. 30s. 34-36: “O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem, de nome José, da casa de Davi. A virgem chamava-se Maria...

Disse-lhe o anjo: ‘Não tenhas receio, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus’... Maria, porém, perguntou ao anjo: ‘Como se fará isto, pois não conheço varão?”

Respondeu-lhe o anjo: ‘O Espírito Santo descerá sobre ti e a virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. É por isto que o Santo, que vai nascer, será chamado Filho de Deus. Eis que Isabel, tua parenta, também ela concebeu um filho em sua velhice e este é o sexto mês daquela que era chamada estéril’.”

Comentando esta última passagem, alguns teólogos católicos julgam que Maria havia feito o voto de virgindade consagrada a Deus. – A hipótese de voto, porém, não é unanimemente aceita.

Merece a atenção também a profecia de Is 7,14, que literalmente traduzida do hebraico, apresenta o seguinte teor:

“Eis a jovem donzela (almah) concebe
E dará à luz um filho,
Que ela chamará Emanuel”.

A palavra hebraica almah significa simplesmente a jovem na flor de seus anos, sem alusão direta à virgindade. – Verifica-se porém, que o mesmo termo na S. Escritura designa a donzela virgem; cf. Gn 24,43; Ex 2,8; Ct 6,7; Sl 67,26. Além disto, a tradição judaica entendeu almah, em Is 7,14, no sentido de virgem, de modo que os tradutores da Bíblia para o grego no séc. III a.C. usaram o termo parthénos (virgem) por almah. São Mateus, no Evangelho (1,23), citou a profecia de Isaías em sua forma grega, dando-lhe a interpretação cristã: a parthénos ou virgem é Maria, e seu filho Emanuel (Deus conosco) é o Cristo Jesus. – Assim a própria Escritura explica a Escritura.

Objeta-se a passagem de Lc 2,48, em que José é dito “pai de Jesus”. – Não se deve, porém, esquecer que o mesmo Evangelista explica exatamente o seu pensamento quando mais adiante (3,22) afirma ter sido São José o pai “putativo” de Jesus: “Jesus era tido como filho de José”. A Providência Divina quis que Maria fosse verdadeiramente casada com José, homem justo, a fim de que seu lar tivesse a tutela que o varão pode e deve dar a mãe do filho; quis outrossim que a maternidade virginal de Maria fosse ignorada pelo público de sorte que o povo tinha Jesus na conta de filho de José.
Na Tradição, desde o séc. II os escritores cristãos professaram a sua fé na maternidade virginal de Maria.

S. Inácio de Antioquia (+ 110) aproximadamente atestava: “O Filho de Deus... verdadeiramente nasceu de uma virgem” (Aos Esmirnenses 1,1).
S. Justino ( + 165 aproximadamente) diz claramente ao comentar Is 7,14: “ ‘A Virgem há de conceber’, não do varão... A força de Deus, sobrevindo a ela, recobriu-a e fez que, embora virgem, se tornasse grávida” (Apol. I 33).
S. Ireneu (+ 202 aproximadamente), referindo-se ao sinal prometido por Is 7,14, observa: “Que haveria de grande ou que sinal se produziria, se uma jovem desse à luz após ter concebido do varão? É justamente isto o que acontece com todas as mulheres que dão à luz” (adv. Haer. III 21,6).

Para não multiplicar os testemunhos, notamos, sem mais, que também o magistério da Igreja sempre ensinou a conceição virginal de Maria. Assim o Credo dito “apostólico” professa: “(Jesus Cristo) foi concebido do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem”. O Símbolo niceno-constantinopolitano reza: “Encarnou-se de Maria Virgem por obra do Espírito Santo”.
Em 649, o Concílio regional do Latrão declarou: “Maria, a Santa Mãe de Deus a imaculada Virgem,... concebeu do Espírito Santo sem semente viril o próprio Deus Verbo; deu-O à luz sem perder a sua integridade, e também depois do parto conservou inalterada a sua virgindade” (DS nº 503).

Em 1555, o Papa Paulo IV, tendo em vista certos erros de sua época, reafirmou: “Maria persistiu sempre na integridade da virgindade, antes do parto, no parto, e perpetuamente após o parto” (ib. 1880).
Os dizeres de Paulo VI foram repetidos mais tarde (1603) por Clemente VIII na bula “Dominici Gregis”.
Até mesmo entre os reformadores protestantes se encontram profissões de fé na virgindade de Maria, de tal modo estava esta crença integrada no patrimônio da Revelação.

Assim reza, por exemplo, a Profissão de fé de Augsburg (Confessio augustana”) redigida por Filipe Melanchton, aprovada por Lutero e ratificada pelos príncipes protestantes em 1530: “Um só Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nascido da Virgem Maria” (“Die Bekenntnisschriften der evangelisch-lutherischen Kirche” 54).

Os “Artigos da Doutrina Cristã” elaborados por Lutero em 1537 professam: “O Filho de Deus fez-se homem, de modo a ser concebido do Espírito Santo sem co concurso de varão e a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem” (IB. 414; Artigos de Schmalkalde I).

João Calvino (+ 1564) publicou em 1542 o “Catecismo da Igreja de Genebra”, onde se lê: “o Filho de Deus foi formado no seio da Virgem Maria... Isto aconteceu por ação milagrosa do Espírito Santo sem consórcio de varão” (Ed. Niesel 8).

Ulrico Zwingli (+ 1531), por sua vez, escreveu: “Firmemente creio, segundo as palavras de Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o Filho de Deus, e que no parto e após o parto para sempre permaneceu virgem pura e íntegra” (Corpus Reformatorum, Zwinglii Opera I 424).

Pode-se ainda observar que até mesmo o Corão de Maomé, o qual reproduz certas proposições do Cristianismo, professa a virgindade de Maria (cf. Sura 19).

Estes testemunhos, aos quais outros se poderiam acrescentar, dão suficientemente a ver como a crença na virgindade de Maria ocupa lugar eminente no conjunto das verdades que a fé cristã sempre professa.

A seguir: No parto

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