"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sábado, 26 de dezembro de 2009

Deus e o Sofrimento

Revista Pergunte e Responderemos nº 465
Fevereiro de 2001

Um leitor desta Revista escreve o seguinte:
“O deuses da mitologia grega praticavam perversidades, ao passo que o Deus da fé cristã é cheio de misericórdia. Todavia a história parece ensinar o contrário, já que no mundo há muito sofrimento, principalmente entre os menos favorecidos. Gostaria de que abordassem o assunto”.
Dom Estêvão Bettencourt O.S.B. responde:
Toda criatura, pelo fato mesmo de ser criatura, é limitada, finita e, por isto, falível. Uma criatura infalível seria um contra-senso; seria um outro deus. Tal é a razão por que no mundo há tantas falhas; Deus quis fazer o ser humano livre, pois a liberdade é uma prenda de grande valor, que diferencia o homem dos robôs; o homem pode escolher espontaneamente o rumo de sua vida e o teor de suas ações. Nisto ele pode errar, cometendo graves danos.
Qual é o papel de Deus diante da realidade?
O Criador poderia estar constantemente policiando o mundo, de modo que nunca houvesse algum desastre. Contudo esse procedimento seria menos digno de Deus, que deseja dar ao homem o ensejo de se realizar com liberdade e nobreza. Deus não quer retirar do homem o precioso dom da livre opção: deixa o homem agir. Mas, como diz S. Agostinho, Ele nunca permitiria o mal se não tivesse recursos, em sua sabedoria, para tirar do mal bens ainda maiores. Com outras palavras: Ele escreve direito por linhas tortas. Nem sempre vemos o bem que o Senhor tira dos males do homem, mas em alguns casos isto aparece: pensemos em alguém que leva uma vida agitada e um belo dia quebra uma perna; fica imobilizado, faz um retiro forçado, que lhe dá a feliz ocasião de repensar a sua vida e reajustá-la! Na verdade, o sofrimento tem um valor pedagógico, que os próprios gregos, antes de Cristo, professavam dizendo: Páthos máthos, isto é, sofrimento é escola, é educação...
Frente aos males que afligem a humanidade de nossos dias, a atitude correta não está em blasfemar contra Deus, mas em procurar conscientizar o ser humano de suas responsabilidades.
Certa vez, num sermão proferido para os fiéis em Hipona, exclamava S. Agostinho: “Não digais que os tempos são maus! Este é um chavão muito antigo. Quem faz os tempos são os homens. Quais formos nós, tais serão os tempos. Sede bons e os tempos serão bons. Não espereis que os outros comecem a ser bons. Sede bons desde já e vereis que o bem aparecerá em torno de vós!”
Estas palavras conservam seu pleno vigor até hoje. Ao vermos os males do mundo de hoje, pensemos na responsabilidade que nos toca. E sejamos ainda melhores do que somos. Em consequência o nosso ambiente se transformará. Com a graça de Deus...

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