"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Todas as religiões são equivalentes entre si?

Relativismo:

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.

Não é raro ouvir-se que todas as religiões são boas ou são equivalentes entre si. Afirma-se que é preciso crer, ... em alguma coisa, ... não importa em que coisa. O sentimento religioso seria um sentimento como a honestidade, a benevolência, o ser metódico..., sentimento que “cai bem” ou que faz bem à saúde. O aspecto subjetivo da religiosidade prevaleceria. Ademais toda religião prega os bons costumes e a educação, de modo que não haveria por que preferir um a outro sistema religioso.

É a esta temática que vamos dedicar a nossa atenção.

Refletindo...

O problema exige que distingamos o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo da religião.

1. Aspecto Objetivo

Não se pode dizer que todas as religiões são equivalentes entre si, pois não coincidem entre si quanto ao Credo: algumas são politeístas (admitem vários deuses), outras são panteístas (identificam a Divindade, o mundo e o homem entre si), outras são monoteístas (professam um só Deus, distinto do mundo). Mesmo dentro de cada tronco há correntes e variantes... Ora a verdade é uma só, de modo que, objetivamente falando, haverá Credos verídicos (em grau pleno ou menos pleno) e Credos errôneos.

Sem dúvida, o senso religioso inato é o mesmo em todos os homens. Ele tem as mesmas expressões religiosas, independentemente do Credo que professam; por efeito de sua religiosidade natural, todos os homens rezam, dobram os joelhos, prostram-se por terra, levantam as mãos ao céu, e praticam as virtudes ditadas pela Ética natural: o senso religioso ensina a não matar, não roubar, não caluniar, não adulterar... Todavia, além dessa base natural comum a todas as religiões, cada religião tem o seu Credo, seu culto e sua Moral própria; neste plano é que se dão as divergências: há quem creia na reencarnação e quem não a aceite; há quem admita o divórcio, o aborto, o homossexualismo, a guerra santa, a poligamia... e quem não os admita.

Em conclusão: objetivamente falando, as religiões não são equivalentes entre si; não são igualmente verídicas, nem são igualmente boas.

Os católicos, a bom título, dizem que só há uma religião revelada por Deus: a que culmina em Jesus Cristo e se prolonga através dos séculos no Corpo de Cristo que é a Igreja confiada por Jesus a Pedro e seus sucessores.

É o que o Concílio do Vaticano II professa na Declaração Dignitatis Humanae nº1:

“Professa o Sacro Sínodo que o próprio Deus manifestou ao gênero humano o caminho pelo qual os homens, servindo a Ele, pudessem salvar-se e tornar-se felizes em Cristo. Cremos que essa única verdadeira Religião subsiste na Igreja Católica e Apostólica, a quem o Senhor Jesus confiou a tarefa de difundi-la aos homens todos, quando disse aos Apóstolos: ‘Ide pois e ensinai aos povos todos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-lhes a guardar tudo quanto vos mandei’ (Mt 28,19-20). Por sua vez, estão os homens todos obrigados a procurar a verdade, sobretudo aquela que diz respeito a Deus e a Sua Igreja e, depois de conhecê-la, a abraçá-la e a praticá-la”.

Na Constituição Lumen Gentium nº8 lê-se:

“Esta é a única Igreja de Cristo, que no Símbolo professamos uma, santa, católica e apostólica (12), e que o nosso Salvador, depois da sua Ressurreição, confiou a Pedro para que ele a apascentasse (Jo 21,17), encarregando-o, assim como aos demais Apóstolos, de a difundirem e de a governarem (cf. Mt 28,28), levantando-a para sempre como ‘coluna e esteio da verdade’ de a governarem (1tm 3,15). Esta Igreja, como sociedade constituída e organizada neste mundo, subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, ainda que fora do seu corpo se encontrem realmente vários elementos de santificação e de verdade, elementos que, na sua qualidade de dons próprios da Igreja de Cristo, conduzem para a unidade católica”.

2. Aspecto Subjetivo

É fato que nem todos os homens chegam ao conhecimento do Evangelho tal como Jesus Cristo o pregou e continua a pregar na sua Igreja; não têm culpa disto. Todavia têm coração reto e sincero ao seguir uma filosofia religiosa diferente do Catolicismo: não duvidam de que estão professando a verdade e a ela deve obedecer, mesmo praticando a poligamia ou crendo que a reencarnação divide os homens em castas diferentes, que têm que sofrer (uns) ou ser inclemente (outros). A tais pessoas Deus não pedirá contas do que não tiver revelado ou do que tiverem ignorado sem culpa própria. Poderão salvar-se não pelo falso Credo que professam, mas pela boa fé ou sinceridade cândida com que o professam. É o que declara a Constituição Lumen Gentium nº 16:

“Aqueles que ignoram sem culpa o Evangelho de Cristo e a sua Igreja, mas buscam a Deus na sinceridade do coração, e se esforçam, sob a ação da graça, por cumprir na vida a sua vontade, conhecida através dos ditames da consciência, também esses podem alcançar a salvação eterna. Nem a Divina Providência nega os meios necessários para a salvação àqueles que, sem culpa, ainda não chegaram ao conhecimento explícito de Deus, mas procuram com a graça divina viver retamente. De fato, tudo o que neles há de bom e de verdadeiro, considera-o a Igreja como preparação evangélica e Dom daquele que ilumina todo o homem para que afinal venha a ter vida”.

Ou ainda a Constituição Gaudium et Spes nº 22:

Tendo Cristo morrido por todos e sendo uma só a vocação última do homem, isto é, divina, devemos admitir que o Espírito Santo oferece a todos a possibilidade de se associarem, de modo conhecido por Deus, a este mistério pascal”.

Assim, de um lado, fica excluído todo relativismo religioso – o que seria relativizar a verdade. Doutro lado, fica excluído também todo fanatismo cego, que não leva em conta a inocência ou a candura de quem, sem culpa própria, não adere à verdade, mas se esforça por cumprir o que o único Deus lhe revela através dos ditames da consciência reta e sincera.

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