"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

domingo, 20 de junho de 2010

Perguntas e respostas de um ateu – 2ª pergunta...

2ª Pergunta

A ciência tem algum documento que prove a inexistência de Deus?
- Não. Mas o conceito de Onipotente, Oniciente e Onipresente é absurdo.

Comentário: Em algumas escolas modernas se formulam objeções contra as provas da existência de Deus; donde resultaria que Deus não existe nem poderia existir (“se Deus existisse, seria preciso matá-lo!”, exclamou Bakunine). Estas objeções procedem de dupla fonte, ou seja, dos conceitos de Criador e de Governador do universo.

A noção de criação, dizem, é absurda. Por conseguinte, não pode existir Criador; o que equivale a dizer: não pode existir Deus.

O conceito de Governador Providente do mundo é, como asseveram, igualmente absurdo, pois o mal existente neste mundo parece constituir a prova mais cabal de que não existe Governador do universo; por conseguinte, não existe Deus.

Vejamos o que pensar de uma e outra objeção.

1) Criar = tirar do nada alguma coisa

Não se deve entender o “nada” da definição como se fosse a matéria prima da qual procedem os seres visíveis. Nisto haveria flagrante contradição; supor-se-ia que o nada é alguma coisa, donde sai outra coisa.

A expressão “a partir do nada” exclui justamente qualquer matéria ou sujeito que entre na constituição intrínseca do novo ser ou do ser criado.

Notemos ainda que o axioma “Do nada nada se faz” supõe sempre um agente finito, agente que precise de matéria para agir. Ora Deus, por definição, é sumamente perfeito e poderoso; por isto ode agir mesmo sem tal matéria; Ele produz efeitos e exerce influência sobre esses efeitos, ainda que não tenha algum sujeito pré existente à sua ação.

2) O mal no mundo

1. Notemos em primeiro lugar, que o mal não é uma realidade positiva, mas uma carência; é a ausência de um bem que não é devido (a falta de olhos na pedra), e a de um bem devido (a falta de olhos no homem); a primeira não é um mal, ao passo que a segunda o é.

Da mesma forma, as trevas não são algo de positivo, mas são a ausência de luz.

2. Por conseguinte, o puro mal não existe; o mal supõe sempre o bem como suporte; é uma carência que sobrevém ao bem. Comparemos entre si o bombeiro (extintor de incêndios) e o ladrão: ambos devem ser corajosos, hábeis, sagazes, inteligentes...; a diferença, porém, está em que o bombeiro tais valores são aplicados a uma finalidade reta (salvar vidas), ao passo que no ladrão carecem da orientação para a reta finalidade.

3. Existem dois tipos de mal:

- o mal físico: carência na linha material (cegueira, doença, miséria...);
- o mal moral: carência da reta ordem na linha do comportamento livre do homem (pecado, vícios...).

4. O mal não tem causa direta. Ele é indiretamente causado por um agente imperfeito, que seja capaz de falhar em sua atividade. Tal agente só pode ser a criatura, nunca poderá ser Deus. Este, por definição, é perfeito.

No plano físico, as criaturas são responsáveis pelas deficiências genéticas, pelos terremotos, pelas tempestades, pelos incêndios... Estes decorrem do exercício das leis naturais; têm sua explicação na própria natureza das criaturas.

No plano moral, os males (pecados, crimes, guerras...) decorem do abuso da liberdade humana.

5. Deus não quer impedir o mal decorrente das limitações das criaturas; para tanto, Ele teria que intervir artificialmente e a todo momento, para coibir o exercício das leis naturais ou da liberdade humana; teríamos então um mundo de marionetes. Por conseguinte, Deus permite o mal; Ele não o quer, mas deixa que as criaturas o cometam. Todavia Ele nunca o permitiria se não tivesse recursos para tirar do mal bens ainda maiores. É S. Agostinho que afirma: “Deus julgou melhor tirar do mal o bem do que não permitir a existência de mal nenhum” (Enchiridion XXVII).

Assim o primeiro pecado tornou-se ocasião para que nos fosse dado o Salvador Jesus Cristo, com uma riqueza de graças nunca antes possuída: “Ó feliz culpa, que nos mereceu tal e tão grande Redentor!” (Liturgia da vigília de Páscoa). Quanto aos demais casos de tribulação, não nos é sempre possível assinalar os bens que Deus tinha em vista ao permitir o mal; como quer que seja, cremos que a Providência Divina não falha, mesmo quando deixa que uma mãe pereça sem ter educado seus filhos ou que uma criança inocente seja atormentada pela dor. – O fato é que já os antigos pagãos reconheciam o valor positivo do sofrimento ao dizerem “pathos-mathos; o sofrimento é escola”.

3) Afinal por que teria Deus criado o mundo e o homem?

Passemos a palavra a Sebastião Faure, expoente do ateísmo moderno:

“Com o pensamento examinaremos Deus antes da criação... Basta-se a si próprio. É perfeitamente sábio, perfeitamente feliz, perfeitamente poderoso. Ninguém lhe pode acrescentar a sabedoria, ninguém lhe pode aumentar a felicidade, ninguém lhe pode fortificar o poderio.

Este Deus não pode experimentar nenhum desejo, visto que a sua felicidade é infinita. Não pode perseguir nenhum fim, visto que nada falta à sua perfeição. Não pode arriscar nenhum intuito, visto que nada falta ao seu poder. Não pode determinar-se a fazer seja o que for, visto que não tem nenhuma necessidade.

Eia! Filósofos profundos, pensadores subtis, teólogos prestigiosos, respondei a esta criança que vos interroga e dizei-lhe por que é que Deus a criou e lançou ao mundo!” (Provas da Existência de Deus”, Rio de Janeiro, 1958, p. 54).

Em resposta seja recordado o axioma da filosofia neoplatônica: “O bem é difuso de si”. Uma boa notícia é propagada rapidamente, ao passo que a má notícia é guardada em segredo tanto quanto possível. Ora Deus é o Sumo Bem; donde se deduz que há de ser sumamente difusivo de Si. Criou o homem para lhe dar o consórcio de sua bem-aventurança; criou o mundo irracional para ser o indispensável habitat do ser humano.

Mas: agir é uma perfeição. Por conseguinte ela há de convir a deus. E convirá de modo todo especial. Com efeito; se existe um ser que é todo perfeito (como Deus é, por definição), não se vê por que sua ação só se poderia manifestar dentro de tais limites, isto é: ... desde que tenha à sua disposição uma matéria bruta preexistente. Se a causalidade de Deus fosse restrita ou limitada como a dos demais seres (restritos ou limitados), Deus não teria ação especifica ou ação proporcionada à sua natureza e característica da sua infinitude.

Estas considerações parecem evidenciar suficientemente que os conceitos de criação e Criador não são absurdos e que, por conseguinte, deles nada se deduz contra a existência de Deus.

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