Existe uma lei de intercâmbio que é sagrada. Toda prestação de mão-de-obra, todo trabalho humano e todo suor derramado em vista da produção e do progresso postulam retribuição à altura, de acordo com a justiça. Aliás, esta lei mereceria maior atenção e maior respeito, uma vez, que as “retribuições à altura” por ela prescritas raramente acontecem.
Mas existe outra lei de intercâmbio que é perversa. Trata-se de uma lei não codificada, não escrita nem impressa em livro nenhum e que, todavia, é amplamente reverenciada. Consiste em dar para receber mais, enviar presentes em troca de presentes mais valiosos, conceder favores para obter favores, oferecer um jantar para ganhar outro jantar, honrar para ser honrado, elogiar para ser elogiado...
É uma lei que desconhece a beleza da gratuidade, que esquece o preceito cristão do serviço fraterno, que mortifica o valor do altruísmo, que atraiçoa a mensagem evangélica do amor.
Infelizmente, a convivência social parece estar fundamentada no comércio de favores, não no serviço fraterno; parece estar voltada para o lucro, não para a gratuidade; parece estar interessada em contrabandear privilégios, não em assumir compromissos; parece estar vidrada no egoísmo, não no amor...
E assim, cada um sai à caça de parceiros selecionados, descartando os sem-títulos e os sem-importância. Cada um faz aliança como os poderosos e toma todo cuidado párea não se comprometer com os mais fracos. Cada um trata de convidar os ricos e deixa os mais pobres fora da porta...
Mas, quem tem fé sabe que o caminho do Reino passa pelas fronteiras do amor gratuito. Percorrê-lo de mãos dadas com os irmãos mais desamparados é aportar nos braços de Deus!
Padre Virgílio
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