"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

terça-feira, 24 de agosto de 2010

As Comparações do Evangelho

Jesus não só ensinava com parábolas, mas revestia seus discursos de comparações e imagens tão belas, que era um encanto ouvi-lo.

Desde pequenino não se saciava de admirar as obras do seu Pai Celeste. Os fenômenos do ar e da terra, os fatos maravilhosos da semeadura e da florescência, os animais de toda a espécie, a nutrição e a vestimentas, os usos e os costumes das pessoas, nada passava despercebido aos seus olhos vigilantes e indagadores. Depois, chegado o momento de ensinar às turbas, do tesouro que guardara, tirava, sabiamente, aquilo que servia para esculpir suas ideias, e aclarar suas palavras. Queria Jesus fazer compreender aos discípulos os cuidados paternos, que Deus tem para com todos os homens.

“Eis, dizia, o que faz para as mínimas criaturas, como por exemplo para as avezinhas: Olhai os habitantes do ar. Eles não semeiam nem ceifam, nem juntam nos celeiros, no entanto vosso Pai Celeste os sustenta” (Mt 6,26).

No mercado estava à venda, a pouco preço, aves domésticas e Jesus assim ensinava: “Não se vendem dois pardais por um soldo? Entretanto, nem mesmo um desses cai por terra sem o consentimento do vosso Pai. E cinco pássaros não se vendem talvez por dois soldos? Pois nenhum deles é esquecido diante de Deus. Não temais pois; vós valeis mais que muitos pássaros” (Lc 12,6-7).

Assim as pombas nos parecem simples e puras, enquanto as serpentes estão sempre em atitude de defesa em seus buracos. E Jesus ensinava: - "Sede prudentes como as serpentes e puros e simples como as pombas” (Mt 10,16).

E as raposas onde se refugiam? E as aves não descansam em seus quentes ninhos? Jesus punha em confronto sua vida dizendo: - “As raposas têm seus covis e os pássaros seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8,20).

As raposas são astutas e Jesus de Herodes: - “Ide dizer àquela raposa” (Lc 13,32).

No Oriente os abutres atiram-se sobre os animais mortos; vendo grande número deles, de longe, Jesus pregava: “Onde estão os cadáveres, aí estão os abutres” (Mt 24,28).

Os carneiros têm um belo posto nos discursos do divino Mestre. Isto é muito natural porque ele mesmo se dizia o Bom Pastor. Com quanta ternura fala deles! Fala das ingênuas criaturas recolhidas em paz, no aprisco, depois de pastarem. À porta está o vigilante pastor que as ama e as chama pelos nomes, uma a uma e as defende como suas criaturinhas queridas.

E eis Jesus, que, não só reconhece a caridade do pastor que vai procurar a ovelhinha perdida, mas fala dos ladrões que roubam no redil e dos lobos que dilaceram os animaizinhos desarmados e assaltam os próprios pastores. Que faz ele então? As pobres ovelhinhas ficam vagando aqui e acolá, sem guia, expostas à sanha dos animais ferozes.

E porque Jesus é verdadeiramente o Pastor, que deu sua vida por nós, e nós somos suas ovelhinhas muito amadas, quem pode ler comparações assim tão ternas, sem se comover: (Jo 10,1-18 e Lc 15,7).

Como é emocionante quando Jesus, deplorando a ruína da sua Jerusalém, não se incomodou de comparar-se à galinha, à amorosa mãe dos pintinhos!

“Jerusalém, Jerusalém, quantas vezes procurei reunir teus filhos, como a galinha abriga os pintinhos sob as asas e tu não quisestes!” (Mt 23,37).

E não é deslumbrante a beleza das flores, ainda que durem apenas um dia? Eis como Jesus extrai delas o seu ensinamento. “Observai os lírios dos campos. Eles não trabalham, nem fiam, mas eu vos digo, que, nem Salomão em toda a sua glória, se vestiu como um deles. Ora, se Deus veste assim a erva dos campos, que hoje existe e amanhã será atirada ao fogo, quanto mais a vós, gente de pouca fé?!” (Mt 6,28-30).

Vejam esta outra comparação tomada da vida campestre e dos fenômenos da natureza. “Observai a figueira e todas as árvores. Quando seus ramos são tenros e brotam as folhas, por esse sinal, sabeis que o estio está próximo” (Lc 21,29; Mc 13,28).

Dizia também ao povo: “Quando vedes uma nuvem, que se levanta no ocidente, dizeis: - “Vem chuva e assim acontece”. E quando sentir soprar o vento sul, dizeis: “Fará calor e assim acontece”.

Jesus recorda também os brinquedos das crianças na praça: “Mas a quem se assemelham os homens desta geração? – Assemelham-se àqueles meninos que estão na praça e dizem aos seus companheiros: - Tocamos flauta para vós e vós não dançastes; cantamos canções tristes e não chorastes” (Lc 7, 313-32).

E assim Jesus tinha centenas e centenas de comparações, as quais iluminava com sua sabedoria, tornando-as muito significativas para nós.

Como são evidentes e instrutivas aqueles do olho e da lâmpada, da trave e do argueiro, do ovo e do escorpião, da agulha e do camelo, do forte armado feito prisioneiros, do vidente e do cego, das traças e da ferrugem, da lâmpada posta sobre o candelabro, do sal que perde o efeito, do vinho novo e dos odres velhos, da videira e dos ramos, da casa varrida, da construção não acabada, do ladrão noturno e dos copos limpos só por fora, e... não se acabam mais!

Proponha, por isso, lê-las você mesmo, no Santo Evangelho e aprendê-las todas de memória. Esse estudo entretanto, não bastará; é preciso que você se esforce para pôr em prática esses grandes ensinamentos. Digam a Jesus: - “Fazei que eu compreenda bem o significado das vossas comparações e as ponha em prática”.

A Pequena Bíblia - P. César Gallina

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