"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

“Que acontece comigo?”

               Em maio de 2003, a Redação da Revista Pergunte e Responderemos – Dom Estêvão Bettencourt O.S.B., via internet, recebeu a seguinte mensagem a qual Dom Estêvão responde com toda a sabedoria de um homem de Deus. Vale a pena ler.

Eis o texto:

               “Eu gostaria de saber se macumba existe, maldições hereditárias existem e, enfim, possessões demoníacas.
               Eu tinha tudo para ser feliz. De repente fiquei com depressão, pânico, gastrite, hipotireoidismo, policistos nos ovários, no útero, obesa, não consigo advogar, meu pai teve câncer, minha mãe diabete e hipotiereoidismo, brigam muito. Meu marido foi embora com outra mulher mais velha e teve duas filhas com ela, minha filha mais velha de 7 anos está muito rebelde, a pequena de 2 sempre está doente, enfim COLOCO AS MÃOS NA CABEÇA E DIGO: O QUE ACONTECE COMIGO? Amo meus pais, minhas filhas, quero nossa saúde de volta, quero ter uma família, ganhar meu próprio dinheiro.
               Outra dúvida: o dízimo tem que ser dado ou é invenção dos homens? Qual é a diferença entre dízimo, oferta e caridade?
               Reencarnação existe? Para onde vamos quando morremos?
               Obrigada”.

Em nossa resposta distinguiremos as três partes da indagação.

1) a causa de tanta dor; a) macumba?; b) maldição hereditária?; c) possessão diabólica?
2) que é dízimo?
3) existe reencarnação?

1. Causa da desgraça

a) Macumba. Devemos dizer que os despachos de macumba e umbanda, como também nenhum feitiço “pega”, pois não existem exus nem orixás nem pomba-gira nem alguma entidade invisível interessada nesses despachos (galinha preta, farofa, cachaça...). Existe, sim, o demônio ou o anjo mau..., mas este quer o pecado e não a doença. Os despachos são, como tais, inócuos, mas se alguém acredita que têm eficácia e se julga perseguido por forças ocultas, poderá ser vítima dessa sua sugestão e precipitar-se na desgraça por imaginar que seu destino mau está traçado. Todavia quem não crê no poder dos despachos, não perde a paz.

b) Maldição hereditária. Não existe. Contrapondo-se ao que pensavam os israelitas, os Profetas proclamaram a responsabilidade individual de cada fiel; ninguém paga pelos pecados de seus antepassados; cf. Jr 31,29:

“Nesses dias já não se dirá: ‘Os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos ficaram embotados’. Cada um morrerá por sua própria falta. Quem tiver comido uvas verdes, terá seus dentes embotados”. Ver Ez 18, 1-3.

c) Possessão diabólica. Existe, mas há de ser cuidadosamente examinado cada caso de presumida possessão, a fim de não se confundir possessão com histeria, epilepsia ou outra doença nervosa. Ela se caracteriza principalmente pela blasfêmia e a revolta contra Deus, - o que não é o caso de quem redigiu a mensagem atrás transcrita.

Como então explicar o acúmulo de desgraças descritas?

Os males que afetam a criatura humana têm causas suficientes na maldade e nas limitações mesmas das criaturas. A nossa consulente passa por uma fase difícil de sua vida, na qual três elementos lhe serão de grande ajuda: a oração, o raciocínio à procura de uma solução inteligente e a colaboração de amigos.

A Providência Divina não falha; ela permite que as criaturas sejam provadas sempre em vista do bem da pessoa tentada. Diz o autor da epístola aos Hebreus (12, 5-13):

“Vós esquecestes a exortação que vos foi dirigida como a filhos: ‘Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando ele te corrige; pois o Senhor educa a quem ama, e castiga todo filho que acolhe’. É para a vossa educação que sofreis. Deus vos trata como filhos. Qual é, com efeito, o filho cujo pai não educa? Se estais privados da educação da qual todos participam, então sois bastardos e não filhos. Nós tivemos os nossos pais segundo a carne como educadores, eos respeitávamos. Não haveremos de ser muito mais submissos ao Pai dos espíritos, a fim de vivermos? Pois eles nos educam por pouco tempo, segundo as suas impressões. Deus, porém, nos educa para o aproveitamento, a fim de nos comunicar a sua santidade. Toda educação, com efeito, no momento não parece motivo de alegria, mas de tristeza. Depois, no entanto, produz naqueles que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça. Por isso, reerguei as mãos enfraquecidas e os joelhos trôpegos; endireitai os caminhos para os vossos pés, a fim de que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado”.

Por conseguinte tenha a amiga paz interior, confiança e ponha sua razão para funcionar.

2. Dízimo

               Dízimo, no Antigo Testamento, era a contribuição que o israelita devia oferecer ao Templo do Senhor. Tinha caráter obrigatório, pois devia lembrar aos israelitas que a terra por eles habitada era puro dom de Deus, que tirara do cativeiro egípcio o seu povo.
               No Novo Testamento o dízimo deixou de ter vigência, pois o povo cristão não tem terra própria. É restauração atualmente em algumas paróquias; não implica a doação de 10% dos emolumentos pessoais, mas uma oferta livre estipulada pelo dizimista. Vem a ser o testemunho da cooperação do cristão com a Igreja.
               O dízimo difere da oferta e caridade no sentido de que o dízimo é uma obrigação mensal que o católico assume livremente, ao passo que oferta e caridade não implicam obrigação.

3. Reencarnação

               A reencarnação é um postulado gratuito ou carente de provas. Ninguém, em estado mental sadio, sabe dizer o que terá sido em encarnação anterior.
               A cosmovisão reencarnacionista é dualista: a matéria seria má por si mesma, e o espírito bom; a história não merece estima, pois o grande anseio do homem é deixá-la mediante uma desencarnação definitiva. De resto, é o homem que salva a si mesmo no decorrer de quantas encarnações forem necessárias para se purificar.
               Outra é a cosmovisão cristã: afirma que a matéria é criatura que Deus fez boa e chama a participar da glória da alma justa. A história é o desdobramento do plano de Deus, que assim vai falando aos homens. De resto, é Deus quem salva sua criatura, dando-lhe todas as graças de que necessite no decorrer de uma única peregrinação terrestre; só se perde quem resiste à graça divina.
              
               Mais amplas considerações sobre o assunto – observa Dom Estêvão – se encontram às pp. 196-201 deste fascículo.

               Após a morte, veremos Deus, a Beleza Infinita, face-a-face, caso morramos na amizade dele. Se, mesmo como amigos dele, tivermos alguma sombra de pecado na hora da morte, teremos que nos purificar disso no purgatório póstumo; este não é tanque de enxofre fumegante, mas um estado em que a alma considera o horror do pecado ou do “pecadinho” e o repudia radicalmente – o que dificilmente acontece na vida presente.

               Cara amiga, eis o que em poucos parágrafos posso dizer em resposta às suas indagações. Seja firme e forte em seu ânimo. Reze e ponha a cabeça para funcionar.

               Assim Dom Estêvão, saudoso pastor, respondeu a indagação feita e cheia de angústia como pudemos perceber. Fico pensando quanta falta nos faz este monge beneditino que hoje gostaria de ver respondendo a tantas outras indagações... Mas... Ele já se encontra com este Deus, pois foi um fiel e muito importante mensageiro. Sou testemunha.
               Também esperamos, embora passado estes anos, que nossa irmã tenha encontrado a paz, tenha acalmado o seu espírito e aceitado sua cruz com confiança em Deus, que certamente não a desamparou.
               Assim nos diz o nosso Papa Bento XVI:

"Quem confia no Senhor não teme as adversidades da vida".



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