"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

A nova safra de surdos

Pe. Virgílio, ssp


A era das Comunicações Sociais parece coincidir com a era da incomunicabilidade. É que nós falamos e escrevemos, cantamos e gesticulamos, comunicamos e transmitimos ideias; mas nem sempre sabemos encontrar a palavra certa, o gesto convincente, a música apropriada para abrirmos um vau no ouvido e no coração dos novos surdos.

Talvez, isso aconteça por não conseguirmos pronunciar, do jeito como Jesus a pronunciou, a ordem: “Efatá: Abre-te!” ou por não conseguirmos misturar com ela todo o amor que Jesus soube misturar...

E, graças à nossa incapacidade de nos comunicar, as legiões de surdos vão engrossando. Estou pensando na terrível praga social da droga; e nos pobres drogados, que se automarginalizam, que se isolam e se azem de surdos a qualquer apelo de amor, a qualquer convite ao bom senso – na convicção de que esta sociedade não presta; e assim deliram por outra, nos braços da deusa cocaína...

São eles a safra dos novos surdos. Atraídos na rede de imundos traficantes, eles deixam atrás de si um rastro de dor infinita: mães humilhadas e feridas bem no centro do coração; pais traídos e frustrados em seu justo orgulho; irmãos abalados pela degradação moral do próprio irmão...

Hoje, porém, pouco importa buscarmos culpados de tanta ruína. Culpado é cada um de nós. A Igreja, família, escola, governantes, sistema social: todos precisamos reconhecer que, se o drogado se tornou surdo à nossa voz foi porque nós, em momento crítico, fizemo-nos de surdos à voz dele. E se ele chegou a se automartirizar, foi porque nós não conseguimos falar-lhe a palavra certa na hora certa.

Agora, onde iremos buscar esta palavra mágica? Ajoelhados com Maria junto à cruz, o próprio Cristo se encarregará de colocá-la em nossa boca. Nós iremos sussurrá-la aos ouvidos de quem tanto amamos; e ele, então, voltará a viver...

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