"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Conversando sobre os Evangelhos e São Paulo... 1.

Passagens difíceis da Escritura, explicadas por Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.

1. “Àquele que tem será dado em abundância; àquele que não tem, será tirado até mesmo o que tem” (Mt 25,29; Lc 19,26). Estes dizeres do Senhor estão inseridos na parábola dos talentos ou das minas. Examinemos o seu pano de fundo.

Um dos servidores do patrão recebe um talento e, em vez de negociar para fazê-lo render, enterra-o ou guarda-o num lenço. Quando o patrão volta e lhe pede contas, o servidor entrega “honestamente” o dinheiro recebido sem o ter roubado ou perdido. Todavia o senhor se irrita, pois o dinheiro é um bem móvel, que não pode ficar parado; manda então tirar aquilo que tem, para o dar àquele que já tem dez talentos: “Àquele que tem, será dado; àquele que não tem, será tirado até mesmo o que tem” (Lc 19,26). Que significa tão estranha afirmação?

- Na verdade, todos receberam de Deus alguns talentos, dos quais o primeiro é certamente o tempo; é, sim, no temo, que, sadios ou doentes, ricos ou pobres, preparamos a vida eterna. Muitos, no fim da vida, gostariam de ter mais um pouco de tempo para consertar o que nela tenha havido de falho. Pois bem, há os que possuem talentos e vivem como quem os possui, utilizando-os e aplicando-os; produzem boas obras, em consequência das quais crescem em perfeição espiritual segundo uma progressão geométrica (2, 4, 8, 32,64...); dizem os mestres que à vida espiritual também se aplica a lei da Física: “A matéria atrai a matéria na razão direta das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias”; o que quer dizer: quanto mais alguém se aproxima de Deus por sua fidelidade ao Senhor, tanto mais é atraído por Ele; o difícil é o começar; uma vez, porém, vencidas as resistências iniciais, o caminhar é cada vez mais acelerado.

Há também aqueles que têm talentos, mas vivem como se não os tivessem; deixam-nos inertes, “enterrados”. São comparáveis a pessoas que têm um braço engessado; este não é amputado, mas, com o tempo, é atrofiado e inutilizado. Paralelamente quem leva uma vida superficial e leviana, arrisca-se a perder o estado de graça, caindo em pecado grave, pois se torna insensível à voz de Deus¹ . Na vida espiritual, não é possível estacionar, como dizia S. Bernardo: ou progredimos, reformulando constantemente nossos propósitos, ou recuamos; a vida espiritual é simbolizada pelo dinheiro, que ou cresce ou decresce, principalmente em nossos tempos.

É de notar que o Senhor pode permitir que pessoas tíbias caiam gravemente ou percam a graça santificante, pois o susto que isto provoca tem levado muitos cristãos a uma tomada de consciência e um recomeço mais fervoroso. A Providência Divina não falta àqueles que pecam mortalmente, pois lhes dá a ocasião de tirar proveito de suas faltas.
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¹ Isto não quer dizer que os dons não utilizados por uma pessoa tíbia sejam transferidos para pessoas fervorosas, pois ninguém ganha coisa alguma pelo fato de que seu irmão perde algo.

A seguir: No Pai-Nosso “dívidas” ou “ofensas”

 

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