"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sábado, 7 de agosto de 2010

A Missa

Artigo escrito por Dom Estevão Bettencourt O.S.B. em 2004 e sempre atual. É  bom examinarmos se tudo está de acordo com o que ensina a Santa Igreja. A unidade é importante e fundamental, por isso, conhecer é importante.

Eis o artigo:

A Missa
Memória de Jesus no coração da vida
por Ione Buyst¹

O livro pretende ser uma catequese sobre a Missa, visando a incutir principalmente a participação dos fieis na celebração eucarística e a necessidade de unir Liturgia e vida do povo de Deus. A autora apresenta questões de ordem teológica e percorre o rito da Missa parte por parte, formulando sugestões e recomendações destinadas a favorecer a consciência de que é a assembleia que celebra e o padre preside.

No intuito de fomentar a participação dos fieis, Ione Buyst propõe atitudes e gestos que já 2001 (5ª Edição) eram revolucionarias e me 2004 mais ainda o são, visto que a Santa Sé censurou severamente o desrespeito às rubricas do Missal na sua Instrução Redemptionis sacramentum (O Sacramento da Redenção). Eis algumas reflexões que a leitura sugere:

1. Considerações gerais

            Sem dúvida, é muito desejável a participação do povo de Deus na celebração da Eucaristia. Mas é preciso lembrar que esta não é simplesmente uma ceia ou uma confraternização ou uma festa animada, mas é a perpetuação da Páscoa de Cristo; o sacrifício da Cruz é feito presente sobre os nossos altares, para que a Igreja (= os fieis) o ofereçam com Cristo ao Pai. Somente em decorrência deste fato a Eucaristia é Ceia. Isto implica os critérios para celebrar a Eucaristia não são simplesmente os da cultura de cada povo, mas sim os de índole teológica que a autoridade da Igreja formula impregnada de fé e acompanhada pele Espírito Santo. A Igreja é a guardiã do depósito da fé, que ela exprime em sua liturgia. Existe uma relação muito íntima entre fé, que ela exprime em sua liturgia. Existe uma relação muito íntima entre fé e oração: (lex orandi Lex credendi, a maneira de rezar é a maneira de crer), de modo que toca à Igreja regulamentar a Liturgia a fim d e que não se deteriore o depósito da fé. O povo de Deus corre o risco de fazer da Eucaristia um folclore muito agradável, mas destoante da sua verdadeira identidade. Nem o padre está autorizado a fazer retoques no ritual eucarístico; assim evita-se todo individualismo que viola a unidade da Liturgia e da Igreja. São palavras da citada Instrução:

            “186. Todos os fieis participem, segundo as possibilidades, plena, consciente e ativamente da Santíssima Eucaristia, a venerem de todo o coração na devoção e na vida. Os bispos, os sacerdotes e os diáconos, no exercício do sagrado ministério, se interroguem em consciência sobre a autenticidade e a fidelidade das ações por eles realizadas em nome de Cristo e da igreja na celebração da sagrada liturgia. Todo ministro sagrado se interrogue, também na verdade, se respeitou os direitos dos fieis leigos, que se entregam a si e seus filhos a ele com confiança, na convicção de que todos exercem corretamente em prol dos fieis as funções que a Igreja, por mandato de Cristo, procura realizar ao celebrar a sagrada Liturgia. De fato, cada um lembre-se sempre de que é servidor da sagrada liturgia”.

2. Tópicos particulares

            Como dito, o livro propõe pontos inaceitáveis, dos quais sejam destacados os seguintes:
            1. Os fieis devem dizer ao padre como querem que seja celebrada a Missa.

            “Infelizmente quando o padre vem para celebrar a missa, muitas vezes o estilo característico das celebrações na comunidade é interrompido. A missa é realizada da maneira muito formal e centralizada no padre. Algumas comunidades nem mesmo preparam a celebração, porque esperam o padre chegar para saber como vai ser, como o padre vai querer que seja a missa naquele dia. É como se a missa não pertencesse à comunidade, mas ao padre... Não deveria ser o inverso? Não deveria ser o padre que pergunta: ‘Como será a celebração? O que vocês prepararam? O que vocês querem que eu faça?...’ As comunidades deveriam preparar normalmente a celebração da missa a partir de sua realidade e com seu jeito de celebrar, e combinar os detalhes com o padre na hora de ele chegar” (p. 20).

             Na verdade, nem os fieis nem o padre são “donos” da Missa; é a Igreja, que celebra representada pelo padre e os fieis.

            2. A intercomunhão generalizada
            Distribuir-se-ia a Comunhão Eucarística a todos os cristãos presentes numa reunião ecumênica.

            “Por motivos de divergências teológicas, Igrejas cristãs se negam a celebrar a eucaristia juntas. Mas a eucaristia é justamente o sacramento da unidade deixando por Cristo! São Paulo, embora em outro contexto, argumenta com a comunidade de Corinto: ‘O cálice de bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? Já que há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos deste único pão’ (1Cor 10, 16-17). Em Cristo já estamos unidos; a unidade já existe no único Senhor, no único batismo, na mesma fé que é dom de Deus; no mesmo Espírito (cf. Ef 4,1-6). Como poderemos continuar negando uns aos outros a participação na mesa do Senhor que expressa e faz crescer esta unidade como dom do Senhor? (p.14).

           A propósito deve-se lembrar que a Comunhão Eucaristia supõe a Comunhão Eclesial. A intercomunhão é a última etapa ou ponto de chegada do diálogo ecumênico, e não o primeiro passo; católicos, ortodoxos orientais e protestantes não professam exatamente a mesa fé; não basta professar a fé em Jesus Cristo Deus e Homem; Ele é inseparável do seu corpo que é a Igreja por Ele fundada.

            3. Ordenação de homens casados e mulheres
            À p. 13 lê-se:

            “É alguém que só vem para celebrar, isto contradiz o sentido mais profundo da eucaristia na sua relação com a vida comunitária; o normal seria que a presidência da eucaristia fosse confiada a quem de fato coordena a comunidade... Não estaria na hora... de ordenar em cada comunidade organizada as lideranças já existentes, possibilitando assim que celebrem a eucaristia a cada domingo?” (pp. 13s)

            “Sabe lá Deus quantas pessoas (homens e mulheres, casadas ou solteiras, leigas ou religiosas), atuantes pelo Brasil a fora, recebem do Espírito Santo o dom da coordenação e não estão sendo reconhecidos pela Igreja, conferindo-lhes a ordenação” (p. 21)

            Sabe-se com certeza que a Igreja diz Nâo à ordenação de homens casados e de mulheres.

            4. A matéria do sacramento da Eucaristia
            À p. 74 escreve a autora:

            “8) E nas regiões onde não se conhece pão feito de farinha de trigo? O bom senso e a necessidade da inculturação não nos levarão a usar pão feito de milho, mandioca, aipim ou tapioca?” (p. 74s)

            O Código de Direito Canônico prescreve pão ázimo (sem fermento); cf, cânon 924.

            5. Distribuição da Eucaristia

            “É bom lembrar que não é necessário ser ministro ou ministra extraordinário da comunhão eucarística para poder distribuir a comunhão; o padre pode chamar outras pessoas para ajudar neste serviço”

            Pergunta-se: em que documento se apóia a afirmação acima?

            Outros avanços indevidos se poderiam ainda apontar. É para desejar que a autora os reconheça; confronta seu livro com a Instrução Redemptionis Sacramentum e faça os ajustes respectivos.

Pela autora do Blog: Eu gosto muito de Dom Estêvão. Como sempre digo, tive a honra de conhecê-lo, pessoalmente e sentir nele, um homem de Deus. Seria muito bom aprender com ele, que embora já esteja no Céu, ainda nos fala e falará sempre. Um fiel servo, sem desvio. Por isso, quando resolvemos falar da Igreja através de livros, blogs e outros meios de comunicação, precisamos antes buscar a verdade. É muito perigoso, especialmente, para aqueles que não têm formação, ou que estão iniciando sua caminhada, depararem com leituras que não condizem com os ensinamentos da Igreja, ou por seus autores não terem o conhecimento ou por quererem que a Igreja ceda a seu “modo de ver e pensar”. Quando obedecemos a Igreja, obedecemos a Cristo que prometeu assisti-la. Temos que pensar nisso, na unidade, especialmente.
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¹Ed. Vozes, Petrópolis 2001 (5ª edição). 140 x 230 mm 116 pp.

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