Os cegos do caminho somos nós, cuja cegueira virou nossa inseparável “irmã sombra”, que se identifica com a descrença, a desconfiança e a dúvida de todos nós. É que deixamo-la estabelecer-se tranquilamente em nós, no lugar da fé.
Ela nos tornou cegos com relação a nós mesmos; incapazes de distinguirmos os pecados das virtudes, o mal do bem, a luz das trevas; indecisos quanto ao caminho a seguir; incertos a respeito daquilo que queremos, daquilo que somos e daquilo que Deus quer de nós.
Tornou-nos cegos com relação a Deus. Tornou-nos cegos com relação a Deus. Tanto assim que consideramo-lo mais patrão do que Pai; mais policial do que Pastor; mais inimigo do que Amigo; mais escravizador do que Libertador; mais castigador do que Salvador.
E tornou-nos cegos também com relação aos irmãos, dando-nos deles uma imagem totalmente distorcida. Nossa irmã sombra é mestra em agigantar os pecados alheios e em aniquilar os méritos deles; é até capaz de fazer-nos enxergar o cisco no olho do outro, sem permitir-nos ver a trave que está no nosso.
Nem tudo, porém, está perdido. Nossa irmã sombra não é indestrutível; pode ser varrida a qualquer momento. A não ser que estejamos gostando dela e a convivência com ela se tenha tornado agradável para nós... Gostar de nossa cegueira é a pior desgraça que nos poderia acontecer.
Mas, se desejarmos libertar-nos dela, basta-nos lançar o grito de Bartimeu: “Mestre, que eu veja!” Então, nossa irmã sombra cederá o lugar à fé; nossa treva irá se transformar em luz. E nós poderemos retomar nossa caminhada com Cristo e com os irmãos, rumo a Jerusalém, rumo ao Reino de Deus.
Padre Virgílio, ssp
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