"PORQUE ONDE ESTIVER O TEU TESOURO, ALI ESTARÁ O TEU CORAÇÃO". Mt 6,21

sábado, 22 de janeiro de 2011

Ateísmo e Ciência? - A revolução cosmológica moderna... continuação

1. A revolução cosmológica moderna




Em meados do século XX descortinou-se aos cientistas uma visão do universo assaz diferente da que as gerações passadas tinham concebido: os contemporâneos tomaram consciência de que o universo é um sistema que tem sua evolução, sua história e, por conseguinte, também está em constante regime de envelhecimento.


Os antigos gregos imaginavam o mundo como algo que não tivera início nem teria fim, algo sem evolução nem desgaste; seria divino e incriado. A escola de Parmênides (séc. VI/V a.C.) concebia esse algo divino como estático, fixo, ao passo que Heráclito de Éfeso (576-480 a.C.) o entendia como algo sujeito a constantes pulsações do uno ao múltiplo e do múltiplo ao uno ou algo sujeito ao eterno e monótono retorno. – Também sabemos que, para os antigos, o universo se reduzia ao nosso sistema solar; ao contrário, hoje se afirma que o universo é um “gás de galáxias”, um gás do qual cada molécula é uma galáxia. ¹ A nossa galáxia compreende cerca de cem bilhões de estrelas; o nosso sol é uma destas. Este gás que invade novos espaços e se dilata; ao mesmo tempo se desgasta e envelhece, conforme o segundo princípio da termodinâmica ou a lei da entropia (ou da degradação) formulada por Carnot (1832) e Clausiu (+ 1888). – Esta lei ensina que a energia motriz ou dinâmica se converte em calor (ou energia térmica), mas o calor não se converte de novo em movimento. Em consequência, o universo posto em expansão tende a se estagnar ou estabilizar.


Entropia é palavra grega que significa involução; é o contrário da evolução. A evolução cósmica, física e biológica é o crescimento irreversível e acelerado da informação (ou das estruturas moleculares) da matéria inanimada e da vida. Ora a entropia é a tendência natural de todas as estruturas físicas, químicas e bioquímicas a voltar atrás se não recebem novas informações; decompõem-se e desfazem-se quando não re-alimentadas. – Numa palavra, todos os seres materiais estão sujeitos a esta lei.


Mais precisamente vejamos como se dá a evolução da matéria, que constitui o universo.

1.1. A formação da matéria


A matéria não é uma realidade isenta de origem e composição, como julgavam os atomistas gregos Demócrito (460-370 a. C.) e Leucípo (séc. V a.C.), mas conhece etapas de formação.

1) Recuando até os primórdios do universo, podemos dizer que a matéria se reduzia à sua forma mais simples ou a partículas: destas as mais numerosas eram os eletrônicos e suas antíteses, os positrônios; havia também partículas sem massa, como os fotônios, os neutrinos e os antineutrinos.

2) A partir de tais partículas, formou-se o primeiro átomo, o mais simples, que é o de hidrogênio. Depois deste, formou-se o de hélio.

3) A seguir, formaram-se as estrelas, que são massas de hidrogênio, que se transforma lenta, mas irreversivelmente, em hélio. No interior das estrelas é que se formam os núcleos mais pesados ou os elementos de composição mais complexa.

4) A formação dos elementos químicos, não é indefinida; ela produz uma centena de átomos, e pára. Segue-se a formação de moléculas, que resultam da estruturação de átomos em equilíbrio. As moléculas, por sua vez, se compõem e associam entre si nas chamadas “macro-moléculas”. Estas também se combinam umas com as outras, de modo a dar as “moléculas-gigantes”.

5) As moléculas-gigantes, que apareceram na face da Terra há cerca de três bilhões e meio de anos, são mensagens genéticas; são telegramas ou informações que governam a construção dos corpos vivos, desde os mais simples até os mais complexos. A estrutura desses seres vivos está inscrita em tais moléculas.

6) Mas também a evolução das moléculas não é indefinida. Ela se encerra como a formação de cinco moléculas-gigantes fundamentais: a adenina, a guanina, a timina, a citosina e a uracil. As quatro primeiras se combinam três em três. Estas cinco moléculas servem para se escreverem todas as mensagens genéticas (ou estruturas básicas) do ser vivo, desde os monocelulares até o homem (que é relativamente muito recente sobre a face da Terra). Formam enormes cadeias arquitetônicas, das quais resultam as proteínas, com seus vinte aminoácidos fundamentais.

7) Depois da evolução dos átomos e das moléculas, começa a evolução dita “biológica”. Como as evoluções anteriores, também a biológica não é indefinida; termina na formação de alguns sistemas biológicos principais – o que vem comprovado pelo fato de que há milhões de anos não se vê o surto de novos grupos zoológicos, nem se poderia indicar a partir de que tronco se daria hoje a evolução dos viventes.

Vê-se, pois, que o universo é um sistema em evolução irreversível, dirigida para composições sempre mais complexas e também ... mais imprevidentes; de fato, quem examina o universo em alguma das fases de sua evolução, não tem dados para predizer o futuro dessa evolução; o passado é sempre mais pobre do que o futuro dentro dos quinze bilhões de anos que conhecemos de sua história.

8) Voltemos a considerar os elementos mais simples que compõem a matéria. Cada estrela é uma massa de hidrogênio, que se transforma lenta, mas irreversivelmente em hélio. Quando esta transformação está totalmente realizada ou acabada, a estrela torna-se estrela morta, uma anã branca, constituída por “matéria degenerada”.

9) Disto se segue que nenhuma estrela – nem o nosso sol – pode ser eterna. Não são compatíveis entre si o conceito de evolução e o de eternidade, pois evolução diz “começo e transformação”, ao passo que a eternidade é a negação de começo e transformação. Sendo, pois, comprovada a evolução do universo, fica comprovado também que ele teve começo. Nenhuma galáxia é eterna, nem o conjunto das galáxias é eterno, pois todas se acham em evolução. Em vez de falar de eternidade do sol ou do universo (como faziam os antigos), a ciência contemporânea assinala as datas aproximadas de origem das estrelas e das galáxias.

Uma vez esboçadas estas linhas de cosmologia contemporânea, procuremos ver como se comporta o ateísmo diante das conclusões da ciência

A seguir: Que diz o ateísmo a propósito?
- Duas posiçoes do ateísmo frente às ciências cosmológicas...

Dom Estêvão Bettencourt O.S.B.
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¹ Galáxia é a maior aglomeração de matéria que conheçamos; contém gás, estrelas, poeira e planetas. As galáxias começam a existir como imensas nuvens de gás, cuja condenação produz as estrelas.

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