A Paixão – A Prisão de Jesus

Mt 26;47-56; Mc 14,43-53; Lc 22,47

Falava ainda quando chegaram homens e soldados com armas, cacetes e archotes. O traidor que os precedia, encontrando-se na presença do Mestre hesitou. Mas, já se tinha empenhado com aquela gente. Por isso, esforçando-se, corre para a frente e, como uma serpente, que dá o bote envenenado, beijou Jesus e disse, quase balbuciando:

- “Mestre, Mestre, eu te saúdo!"

Os discípulos costumavam saudar assim o Mestre.

Jesus, que sabia muito bem, que aquele não era o beijo do respeito e do amor, mas o da traição, perguntou:

- “Amigo, o que vens fazer? Tu, Judas, com um beijo entregas o Filho do homem?”

Judas não soube responder. Oh! se tivesse dito apenas; “Jesus, perdoa!” estaria salvo! Assim que percebemos ter cometido uma falta, peçamos, imediatamente, perdão a Deus e aos homens e seremos libertados do mal.

Mas, logo Jesus encontrou-se com a turba e perguntou:

- “A quem procurais?”

- “A Jesus de Nazaré”, responderam.

- “Sou eu”, disse Jesus.

Ao vê-lo diante deles e ao ouvir aquela voz, tiveram um grande choque e recuaram, caindo uns sobre os outros. Quando se refizeram, Jesus perguntou de novo:

- “A quem procurais?”

- “A Jesus de Nazaré”, responderam.

E Jesus replicou: - "Já vos disse, sou eu. Se, pois, me procurais deixai ir estes”.

Jesus não queria que fizessem nenhum mal aos seus Apóstolos. Este porém já tinham recobrado ânimo. Pedro, que pensava poder defender seu divino Mestre com as próprias mãos, puxou, sem mais, da espada e deu um golpe na cabeça de um dos servos do Sumo Sacerdote. Talvez ele estivesse na frente dos outros, mas, desviou em tempo e lhe foi cortada apenas uma orelha. Aquele servo chamava-se Malco.

Àquele gesto, Jesus, que ia para a morte, por nosso amor, voltou-se para Pedro e disse:

- “Simão põe a espada na bainha. Não devo então beber o cálice que o Pai me deu? E, se recorresse a ele não me mandaria legiões de Anjos?” e, tocando a orelha, a curou.

Depois, dirigindo-se àqueles que estavam armados contra ele acrescentou:

- “Como contra um bandido, viestes, armados com espadas e paus para prender-me! Eu estava no Templo todos os dias, no meio de vós e não me prendestes. Mas esta é a vossa hora, é a hora do poder das trevas!”

Então a turba, o tribuno militar e os guardas dos judeus puseram as mãos sobre ele e o amarraram, enquanto os Apóstolos, amedrontados e apavorados, abandonando o Mestre, fugiam.

Um jovem porém, que naturalmente dormia pelas vizinhanças, foi despertado pelos rumores e andava atrás de Jesus, que levavam para Jerusalém. Não teve tempo nem de vestir-se e estava enrolado num lençol. Devia, certamente, conhecer o divino Mestre e querer-lhe muito. Todavia, quando percebeu que os guardas, suspeitando dele, olhavam sempre para trás, quis fugir, mas o agarraram pelo lençol e ele correu, deixando-lhes o lençol nas mãos.

Nós estamos prontos a desculpar a timidez do jovem; mas, se ele ao contrário, tivesse acompanhado Jesus, corajosamente disposto a segui-lo também na sua paixão, que felicidade e que honra! Parece entretanto, que mais tarde, ele reparara muito bem o seu medo, porque acompanhou S. Pedro e escreveu sob sua inspiração e guia, o segundo Evangelho. Julga-se que aquele jovem fosse o evangelista S. Marcos.

Grande parte da liberdade que gozamos, ou mesmo toda, devemo-la a Nosso Senhor Jesus.

Recordem-se sempre, meus caros, de que ele se deixou prender pra nos tornar livres. Digam a Jesus: - “Ó generoso Libertador meu, fazei que nunca seja eu encarcerado pelo pecado ou pelas paixões!”